quinta-feira, 16 de maio de 2024

76 ANOS DE EXPROPRIAÇÃO DO POVO PALESTINO

maio 16, 2024

 


Reproduzimos aqui a nota sobre a Nakba da Rede Universitária em Solidariedade ao Povo Palestino,


“Não estamos olhando para trás para desenterrar evidências de um crime passado, pois a NAKBA é um presente prolongado que promete continuar no futuro.”

Mahmoud Darwish, 2001.

   
  Por ocasião dos seus 76 anos, a NAKBA ­– palavra árabe que significa catástrofe – permanece para o povo palestino como o reflexo de uma profunda injustiça; uma agressão à sua condição humana e uma contínua usurpação de seu direito inalienável à liberdade e à autodeterminação – consequência do colonialismo sionista de assentamento de Israel.

   A NAKBA palestina, iniciada em 1948, foi definida pela ONG Al Mizan como a expulsão forçada de mais de 700.000 pessoas (80% da população à época) e pelo assassinato de, aproximadamente, 15.000 pessoas, resultado de mais de 70 massacres pelas milícias sionistas durante o período de 1947-49, a de população de 50% das aldeias e centros urbanos, muitos destruídos com o propósito de impedir o retorno das pessoas que nelas habitavam, parte integrante de um processo planejado de limpeza étnica.

   A NAKBA resultou na fragmentação e na dispersão do povo palestino, metade do qual encontra-se hoje em condição de refugiados e de exílio; seu direito ao retorno, consagrado pela Resolução da Assembleia Geral da ONU no. 194 (dezembro de 1948), tem sido frontalmente negado por Israel ao passo que este direito é concedido a toda pessoa judia, em qualquer parte do mundo, de residir em toda a palestina histórica.  Com isso, a ONG israelense B´Tselem denominou Israel de um “estado de supremacia judaica do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo”.  A outra metade do povo palestino vive sob uma ocupação militar e um colonialismo de assentamento racista segundo a Anistia Internacional, que em 2022, considerou Israel como um regime de apartheid.

   O genocídio que, hoje, testemunhamos em Gaza, reflexo da NAKBA permanente, é uma extensão do projeto colonial de Israel. De outubro de 2023 até o final de abril de 2024, duas milhões de pessoas (ou 80% da população da Faixa de Gaza) foram expulsas de suas casas e correm o risco iminente de limpeza étnica. 70% das construções – incluindo casas, hospitais, mesquitas, igrejas, escolas e todas as 12 universidades – foram bombardeados e destruídos com a clara intenção de tornar Gaza inabitável. Mais de 40.000 pessoas foram mortas; entre elas, 70% crianças e mulheres; 19.000 crianças se tornaram órfãs; mais de 1.000 crianças estão com uma ou duas partes do corpo amputadas e dezenas de milhares de famílias foram riscadas do registro civil. 

   Para os sobreviventes a situação é catastrófica; segundo a ONU, “o bombardeio direto de hospitais e a negação deliberada do acesso a instalações de saúde por franco-atiradores israelenses, combinados com a falta de camas e recursos médicos, colocando cerca de 50.000 mulheres palestinas grávidas e 20.000 recém-nascidos em risco inimaginável. Mais de 183 mulheres por dia estão dando à luz sem anestesia, enquanto centenas de bebês morreram por falta de eletricidade para alimentar as incubadoras. As terríveis condições resultaram em aumento de abortos espontâneos em até 300%. 95% das mulheres grávidas e lactantes enfrentam pobreza alimentar severa”. Além disso, mais de 10.000 homens foram sequestrados e encarcerados em prisões israelenses sob tortura e negligência médica. A ONU documentou casos de abuso e relatos de agressão sexual e violência contra mulheres e meninas, inclusive contra as detidas pelas forças de ocupação israelenses.

   Hoje, em Gaza, outra NAKBA está em curso, desta vez sendo transmitida, diretamente, por jornalistas palestinos que têm sido atacados (mais de 120 mortos), pois buscam denunciar e divulgar de forma heroica os crimes cometidos contra seu povo e, assim, se contraporem à narrativa do Estado de Israel que busca o apagamento e o memoricídio da NAKBA permanente contra os palestinos.

   A resistência e o Sumud (a persistência) da população de Gaza frente à barbárie vivida, diariamente, há mais de 7 meses, têm mobilizado uma onda global de protestos, incluindo as manifestações em massa de estudantes contrários ao genocídio e ao apoio militar a Israel. Tais manifestações, igualmente, têm exigido a implementação das propostas da política de BDS - Boicote, Desinvestimento e Sanções – contra Israel de modo a inviabilizar a continuação do regime colonial e de apartheid.

   Há outros acontecimentos e novos fatos que também foram desencadeados e que sinalizam mudanças importantes: o surgimento de uma solidariedade continental em defesa da autodeterminação do povo palestino; o processo na CIJ apresentado pela África do Sul acusando Israel de prática de genocídio em Gaza (apoiado por um número crescente de países); uma incipiente mudança de narrativa a favor da Palestina e um acirramento de disputas políticas, inclusive nas eleições de países do ocidente, no qual aumenta o questionamento ao apoio incondicional a Israel.

   Ao mesmo tempo em que manifestamos nossa indignação diante do genocídio em curso em Gaza, devemos lembrar as lúcidas palavras de Angela Davis: “a esperança é um ato político”. 

  Finalmente, orientemo-nos pela coragem e resistência do povo palestino em Gaza e nos territórios ocupados, fortalecendo nosso compromisso em defesa do direito dos povos à autodeterminação e à liberdade!

  Reafirmemos nosso compromisso de aderir ao apelo palestino de BDS, tendo como exemplo a antiga situação da África do Sul.

  Acabar com o colonialismo e o apartheid de Israel são as únicas garantias para o fim do genocídio e contra a perpetuação da NAKBA!

 Toda a força e solidariedade à luta do povo palestino pela liberdade e pela autodeterminação!

15 de maio de 2024




quarta-feira, 8 de maio de 2024

LUKÁCS, MATERIALISMO HISTÓRICO E RELAÇÃO ENTRE SER E CONSCIÊNCIA

maio 08, 2024

Penso que esse texto de Lukács é interessante no sentido de diferenciar o materialismo histórico, fundado por Marx e Engels, do idealismo filosófico e do marxismo vulgar. Principalmente, sobre a relação entre o ser e a consciência, o que reverbera para a conexão sujeito-objeto. O idealismo filosófico produz uma hierarquia baseada na consciência ou ideia que produz e ordena as formas de objetividade. Já o marxismo vulgar reduz a consciência a um simples reflexo passivo da realidade, transformando o sujeito num simples espelho da realidade, sendo a relação ontológica-gnosiológica do conhecimento conformada numa relação “objeto-sujeito”.

Professor Frederico Costa da FACEDI-UECE



     


         Trata-se de um mal-entendido muito difundido acreditar que a imagem de mundo do materialismo – prioridade do ser em relação à consciência, do ser social em relação à consciência social – possui também um caráter hierárquico. Para o materialismo, a prioridade do ser é, antes de tudo, a constatação de um fato: existe ser sem consciência, mas não existe consciência sem ser. Contudo, disso não resulta nenhum tipo de subordinação hierárquica da consciência ao ser. Pelo contrário, essa prioridade e seu reconhecimento concreto – tanto teórico como prático – pela consciência é que criam a possibilidade de a consciência dominar o ser em termos reais. O simples fato do trabalho ilustra essa faticidade de modo contundente. E, quando o materialismo histórico constata a prioridade do ser social em relação à consciência social, trata-se igualmente apenas do reconhecimento de uma faticidade. A prática social também está direcionada para o domínio social, e o fato de ter cumprido seus fins apenas de modo muito relativo no decorrer da história até o presente momento não cria uma relação hierárquica entre ambos, mas apenas determina as condições concretas nas quais uma prática exitosa se torna objetivamente possível, traçando desse modo, simultaneamente, seus limites concretos, o espaço de manobra para a consciência, o espaço proporcionado pelo respectivo ser social. Assim, nessa relação, torna-se visível uma dialética histórica, mas de modo algum uma estrutura hierárquica. Quando um pequeno barco a vela se mostra impotente diante de uma tempestade que um poderoso navio a motor superaria sem dificuldades, isso mostra apenas a superioridade ou a limitação real da respectiva consciência diante do ser, mas não uma relação hierárquica entre o homem e as forças da natureza; e isso tanto menos quanto o desenvolvimento histórico – e com ele o conhecimento crescente que a consciência tem da verdadeira natureza do ser – produz um crescimento constante  das possibilidades de domínio do ser pela consciência.

LUKÁCS, György. Estética: a peculiaridade do estético, volume 1. São Paulo: Boitempo, 2023, p. 161-162.

domingo, 5 de maio de 2024

206 ANOS DE KARL MARX

maio 05, 2024
 

Há 206 anos, em 1818, nascia Karl Marx que, ao lado de Friedrich Engels, formulou os fundamentos teóricos, as chaves básicas para o entendimento objetivo do sistema capitalista, identificando seus limites e apontando as determinações de sua superação positiva (posto que a barbárie é uma possibilidade) pela via da revolução proletária. Marx não formulou teses acadêmicas mas os pilares para a construção do instrumento da revolução, um partido operário independente da burguesia. Aí está porque em sua homenagem se publica aqui um pequeno trecho de O Marxismo de Nosso Tempo (também conhecido como O Pensamento Vivo de Karl Marx) em que Leon Trotsky faz breves indicações acerca da relação entre o marxismo, uma doutrina na construção do partido e da revolução socialista, e a ciência oficial. 

Eudes Baima - Professor da FAFIDAM/UECE.

 

 

O Marxismo e a Ciência Oficial

Marx teve predecessores. A economia política clássica — Adam Smith, David Ricardo — floresceu antes que o capitalismo tivesse se desenvolvido, antes que começasse a temer o futuro. Marx rendeu aos grandes clássicos o perfeito tributo de sua profunda gratidão. No entanto, o erro básico dos economistas clássicos era considerarem o capitalismo como a existência normal da humanidade em todas as épocas, ao invés de considerá-lo simplesmente como uma etapa histórica no desenvolvimento da sociedade. Marx iniciou a crítica dessa economia política, mostrou seus erros, assim como as contradições do próprio capitalismo, e demonstrou que seu colapso era inevitável.

A ciência não atinge sua meta no estudo hermeticamente fechado do erudito, e sim na sociedade de carne e osso. Todos os interesses e paixões que dilaceram a sociedade exercem sua influência no desenvolvimento da ciência, principalmente da economia política, a ciência da riqueza e da pobreza. A luta dos trabalhadores contra os capitalistas obrigou os teóricos da burguesia a dar as costas para a análise científica do sistema de exploração e a ocupar-se com uma descrição vazia dos fatos econômicos, o estudo do passado econômico e, o que é muitíssimo pior, com uma falsificação absoluta das coisas tais como são com o propósito de justificar o regime capitalista. A doutrina econômica ensinada até hoje nas instituições oficiais de ensino e que se prega na imprensa burguesa não está desprovida de materiais importantes relacionados com o trabalho, mas não obstante é inteiramente incapaz de abarcar o processo econômico em seu conjunto e descobrir suas leis e perspectivas, nem tem o menor intuito de fazer isso. A economia política oficial está morta.

Leon Trotsky – O Marxismo de Nosso Tempo.

terça-feira, 16 de abril de 2024

DERMEVAL SAVIANI: UM INTELECTUAL MARXISTA SEM REPOUSO

abril 16, 2024

I

HOMEM FORTE E ARRETADO

É REFERÊNCIA NA EDUCAÇÃO.

DERMEVAL SAVIANI É O SEU NOME,

PROFISSIONAL ILUMINADO

QUE TRAZ CONSIGO A DOCÊNCIA E A POLÍTICA

E PESQUISAS RENOMADAS

NA ÁREA DA FILOSOFIA E DA EDUCAÇÃO.

 

II

GRADUADO EM FILOSOFIA, EM 1966,

COM MUITA DEDICAÇÃO

ALI COMEÇOU A SUA JORNADA

E LUTA PELA EDUCAÇÃO.

NA UNICAMP TEVE PALCO NA GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO

E HOJE É PROFESSOR EMÉRITO APOSENTADO

POR ESSA MESMA INSTITUIÇÃO.

 

III

COM DOUTORADO E MESTRADO

EM FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

É MUITA SABEDORIA EM CIMA DE SÓ UM CRISTÃO.

PENSE NUM CABRA OUSADO E SABIDO

E QUE NOS TRAZ MUITA INSPIRAÇÃO.

DÁ PARA MONTAR UMA ESTANTE DE LIVROS

SÓ COM AS OBRAS E ARTIGOS DE SUA AUTORIA,

POIS O CABRA TEM PRA LÁ DE TRINTA E SE JUNTAR COM AS OBRAS EM COAUTORIA

VAI SE PERDER DE VISTA A TAMANHA PRODUÇÃO.

 

IV

É UM INTELECTUAL DE PRIMEIRA GRANDEZA E POR ISSO MESMO

RECEBEU VÁRIOS PRÉMIOS E HOMENAGENS  DE GRANDE BELEZA, ENTRE OS QUAIS DESTACAMOS: O PRÊMIO ANÍSIO TEIXEIRA, ESTE EMITIDO PELA CAPES, EM 2016, PELA SUA CONTRIBUIÇÃO À EDUCAÇÃO BRASILEIRA; FRISAMOS TAMBÉM A HOMENAGEM REALIZADA PELA ANPED, EM 2020, EM RECONHECIMENTO A IMPORTÂNCIA DO SEU GRANDE LIVRO ESCOLA E DEMOCRACIA; E AGORA PARA FECHAR ESSE EXEMPLO COM CHAVE DE OURO MENCIONAMOS O PRÊMIO MAIS TRADICIONAL DA LITERATURA BRASILEIRA CONCEDIDO A SAVIANI, EM 2008, PELA CÂMARA BBRALEIRA DO LIVRO, O JABUTI DE OURO, UMA CONGRATULAÇÃO PELA PUBLICAÇÃO DE HISTÓRIA DAS IDEIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL, LIVRO DE MUITA ACLAMAÇÃO!

 

V

E NÃO PARA POR AÍ NÃO!

TENDO ELE RECEBIDO PELA UNICAMP

O TÍTULO DE LIVRE-DOCÊNCIA, EM 1986,

ELE TAMBEM FEZ PÓS-DOUTORADO

NA ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS

COM FOCO NA HUMANA FORMAÇÃO

E NA BENDITA E JUDIADA EDUCAÇÃO.

 

 VI

GRANDE DEFENSOR DA CLASSE TRABALHADORA,

E DIFERENTE DE SANSÃO

QUE EXTRAI DOS MITOS A FORÇA DE SEUS ATOS,

SAVIANI TEM NA CIÊNCIA REFERENDADA PELOS CLÁSSICOS DA LITERATURA A FONTE DE SUA FORÇA E CRIAÇÃO.

 

VII

SUA TRAJETÓRIA ACADÊMICA É DE SE ADMIRAR

PROFISSIONAL DESTACADO NAS ÁREAS DE FILOSOFIA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO HUMANA,

EDUCAÇÃO BRASILEIRA, PEDAGOGIA, POLÍTICA E LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL

TAMBÉM É PARECERISTA, REVISOR E AVALIADOR

DE PERIÓDICOS RENOMADOS POR SUAS CONTRIBUIÇÕES.

 

VIII

SUA CAMINHADA PROFISSIONAL

NO ENSINO SUPERIOR

FORTALECE TANTO O ENISINO E FORMAÇÃO

DO PROFESSOR QUANTO A DO PESQUISADOR

INTELIGÊNCIA NÃO LHE FALTA.

POR ONDE ELE PASSA PROPÕE

QUE O DOMINADO

DOMINE A MESMA ARTE QUE DOMINADOR,

DEIXANDO DESSE MODO A SUA MARCA

DE TEÓRICO E PROFISSIONAL DE VALOR.

 

IV

E AGORA MINHA GENTE

PREPAREM O CORAÇÃO

TEREMOS O GRANDE PRAZER

DE OUVÍ-LO COM ATENÇÃO

RECEBAM NOSSO CONVIADO

PROFESSOR DERMEVAL SAVIANI

TE ACOLHEMOS COM EMOÇÃO

E DE ANTEMÃO, TODA A NOSSA GRATIDÃO.

 

 

Cordel elaborado por Francisco Glauber de Oliveira Paulino e Maria Núbia de Araújo

 

Uma homenagem ao Prof. Dr. Dermeval Saviani realizada pelos coletivos:

 

Grupo de Estudos: História, Educação e Pedagogia Brasileira (GEHEPB). Criação e coordenação: Profa. Dra. Maria Núbia de Araújo e

Profa. Dra. Ruth Maria de Paula Gonçalves

 

Grupo de Estudos: Educação do senso comum à consciência filosófica. Criação e coordenação: Prof. Dr. Frederico Jorge Ferreira Costa e Prof. Esp. Francisco Glauber de Oliveira Paulino

 

Grupo de Estudos: Estudos newtoneanos.

Criação e coordenação: Prof. Dr. Frederico Jorge Ferreira Costa e Prof. Esp. Francisco Glauber de Oliveira Paulino

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Marx é mais atual do que nunca

dezembro 25, 2023


     No ocaso de 2023, não há como negar a profunda crise que atinge o mundo. As contradições surgem e crescem diariamente. Guerras, desemprego, genocídio, repressão, crimes ambientais, mas também, resistência e mobilizações populares. Desespero, frustrações coletivas, alienação combinam-se com esperanças e projetos de mudança. Em proporção assustadora, a situação atual exige mudanças profundas. 
     A barbárie avança sobre as mais diversas formas para manter privilégios e estruturas de dominação. A guerra por procuração dos EUA/OTAN/Ucrânia contra a Rússia, o genocídio do Estado colonial de Israel contra o povo palestino e os recentes ataques do governo fascista de Javier Milei contra a classe trabalhadora argentina indicam uma tendência do capital financeiro internacional (sistema imperialista) para superar a profunda crise capitalista. Isso mostra uma ruptura radical com todo um período histórico, que estava estabelecido desde 1945, e, também, uma ofensiva internacional sem precedentes contra direitos trabalhistas, conquistas democráticas, soberania das nações oprimidas e autodeterminação dos povos. 
      A tarefa urgente de nosso tempo é a defesa da existência das organizações de classe dos explorados e oprimidos, em qualquer lugar no mundo. Tal exigência é inseparável da luta ideológica contra inúmeras formas de consciência que são cúmplices na manutenção da exploração capitalista existente. Nesse sentido, não é possível deixar de afirmar a importância do marxismo para a luta emancipatória e socialista. 
                                                                           *** 

      As classes dominantes e seus intelectuais não medem esforços para produzir erros de interpretação e deturpações das formas de consciência e teorias produzidas pelos explorados e oprimidos. Que melhor exemplo do que o movimento nascido em torno de Jesus de Nazaré que, de expressão de resistência, foi transmutado em ideologia oficial do Império Romano. Imagine o que ocorre com um pensamento radicalmente anticapitalista. 
     Referências a Marx e ao marxismo são constantes na mídia e nas redes sociais. Políticos, jornalistas, cientistas sociais, religiosos, filósofos e palpiteiros de plantão sempre têm algo a dizer sobre os problemas e contradições do marxismo, no entanto, na grande maioria dos casos, parece que não se leu uma linha escrita, pelo menos por Marx, ou se satisfazem com o mínimo de conhecimento sobre a obra de um dos mortos mais perigosos do mundo para o mundo capitalista. 

                                                                            ***

    Diferentemente dos pensadores de seu tempo, que buscavam apenas entender o mundo, Marx conformou-se como um homem de ação. Aos vinte e sete anos, afirmou: “Os filósofos não têm feito mais do que interpretar o mundo de diversas maneiras, o que importa é transformá-lo”. Isso demarcou a natureza de seus escritos como meios de ação para a luta revolucionária dos trabalhadores contra o capitalismo e a dominação burguesa. Nessa perspectiva, o conhecimento científico da realidade não acabava em si mesmo, mas estava a serviço da radical mudança da sociedade. Nas condições históricas da sociedade moderna, o conhecimento deve ser um instrumento das forças de emancipação social em luta contra as estruturas exploradoras e opressivas. 
     A vida de Marx, nos âmbitos público e privado, intelectual e político, torna-se incompreensível fora do contexto do movimento operário e das contradições do capitalismo. Marx iniciou a resposta mais radical à sociedade burguesa, indicando sua historicidade, lógica de funcionamento e possiblidades de superação. 
    Marx não descobriu a luta de classes. Antes dele, historiadores como Thierry, Guizot e Mignet já tinham estudado os conflitos entre burguesia e nobreza. Marx, no entanto, acrescentou que essa luta prosseguia, agora entre trabalhadores assalariados e seus patrões capitalistas. 
  Entendendo isso, participou, desde a juventude até o fim de sua vida, na organização e desenvolvimento de projetos revolucionários e classistas, chegando a ser o dirigente mais importante da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), entre 1864 e 1872. 
      Dirigiu o principal periódico da Alemanha durante a Revolução de 1848; durante a Comuna de Paris de 1871, mobilizou as forças da AIT em solidariedade incondicional aos "comunards". 
    Como atualmente o mundo passa por uma onda de guerras fomentadas pelo capital financeiro, é importante lembrar que Marx, em parceria com Engels, sempre buscou compreender os conflitos militares de seu tempo para elaborar uma estratégia de intervenção do proletariado em relação a eles. Exemplo disso são seus escritos sobre a Guerra da Criméia (1853-1856), a Guerra da Itália (1859), a Guerra Civil dos Estados Unidos (1861—1865), a intervenção francesa no México (1862-1867), o conflito franco-alemão (1870-1871) e a Guerra Russo-Turca (1877-1878). Noutras palavras, Marx tomava posição no sentido de construir situações progressivas para a luta de classes do proletariado; nunca ficou em cima do muro. 
    O que não deve ser esquecido é que as obras de Marx, inclusive "O capital", estão organicamente vinculadas, tanto teoricamente como na prática social, às crises, às guerras e às revoluções das quais acompanhou ou participou a partir da perspectiva do proletariado. De fato, por seu caráter histórico, a obra de Marx será sempre inacabada. Daí seu constante enriquecimento pela luta dos explorados e pelos intelectuais orgânicos ligados ao movimento operário. A atualidade da obra de Marx, não é nada mais do que a atualidade da revolução socialista, pois o capitalismo revela-se, cada vez mais, incapaz de desenvolver as capacidades humanas. 

2024 será um ano de muitas lutas. Venceremos!

Frederico Costa
Professor da Universidade Estadual do Ceará- UECE e coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário - IMO.