Pôr do sol em Fortaleza
Fim
de tarde cheio de saudade na Beira Mar. E o pôr do sol em Fortaleza reluz
intensamente nas águas de infinito azul. Sempre admirei o esplendor deste
fenômeno da natureza como uma sensação que não se esgota em si mesma, mas, que
se amplia na medida em que não estabeleço limites para senti-lo. Tenho
insistido nisso tão-somente porque não suporto que me digam como devo sentir as
coisas do mundo. O meu egoísmo é assim, uma simbiose de exaltação e aridez.
A
única razão pela qual nunca deixo de ver o pôr do sol é quando, invariavelmente,
sempre estou desgastado de mim mesmo e não suporto compreender-me. E feito um
torvelinho de cansaço e desgosto, só encontro motivos para destroçar este meu
egoísmo insípido. Certamente, aquela saudade não é em vão. Pois, sinto a partir
de minhas lembranças, a vida como se fosse a última. E esse repertório de
vivências dissipadas é um verdadeiro oceano de renúncias e desilusões.
Meu
coração é apenas um órgão que faz valvular o sangue no meu corpo. Eu sinto
mesmo profundamente tudo é pelo dispositivo do devaneio sensitivo e insano.
Todavia,
ao caminhar pelas límpidas areias da praia de Iracema, começo a entender que
esse cotidiano de simulacros e encenações de orgulho estúpido (afetuosidades
desnecessárias) não passa de beleza mórbida e torpeza fria. Só o pôr do sol
aqui para dilacerar minha angústia de existir!.. e tudo é assim, feito brisa
leve na contradição de viver. E o meu destino não se encerra em nenhum objetivo
pleno, mas em plena tarde, encontro o sentido da vida: não se perguntar o porquê
de estarmos aqui.
Madrugada e vento frio
A
noite transcorria serena. E um leve sono repentino provocava em mim uma
sensação de melancolia confortável. Lá fora um abismo de silêncio. Mas no
interior do meu quarto semicerrado ressoava um estampido de saudades mortas.
Algo assim não surpreendente pois o que me deixa mesmo extasiado é o vento frio
das madrugadas intransponíveis. Porque é nessas horas que eu sinto rebentar um
furor inesgotável. E nesta mesquinha cidade de concreto pálido componho minha
cantilena absolutamente confessional.
Embora
submetido aos meus próprios deslizes, ainda procuro uma razão de ser. Mesmo
assim, inquieto, irascível e tolo.
Antonio Marcondes dos Santos Pereira
Doutor em Educação (UFC)
Membro do GEM/UFC
Membro do GEM/UFC