Foto: REUTERS/Divulgação (Pilar Olivares)
Trabalhadores como alvo preferencial da barbárie capitalista
Mais uma tragédia. Dessa vez foi o assassinato da menina Ághata Vitória Sales Félix de oito anos de idade. A criança estava com a avó em uma Kombi de transporte alternativo de passageiros e foi alvejada pelas costas, no contexto de uma operação da Polícia Militar no Complexo do Alemão, na cidade do Rio de Janeiro. Para ideólogos e simpatizantes da extrema-direita um simples custo ou efeito colateral do combate ao “crime organizado”. Na verdade, uma violência de classe organizada contra trabalhadores, pobres, negros e jovens da periferia.
Se olharmos mais de perto, é fácil perceber que não há helicópteros nem operações policiais nos condomínios ou bairros onde moram os “homens de bem” e suas famílias. Não há isso nos bairros ricos das grandes cidades brasileiras. O objeto de ataque são os bairros populares e seus setores mais frágeis, privados de políticas públicas de saúde, educação, saneamento e vitimados cotidianamente por relações sociais de misoginia, de racismo, de lgbtfobia e de segregação.
Com o aprofundamento da crise política e social a tendência é que tragédias como essa sejam mais comuns. E a solução não virá de cima, do Estado ou dos diversos setores das classes dominantes em nosso país.
No caso do Estado brasileiro, como todo Estado, ele é de classe. Suas raízes estão fincadas em mais de trezentos anos de escravismo colonial e atualmente é a forma política do capitalismo periférico em crise. O poder exercido na família, na escola, nas empresas, nas prisões e noutras instituições está regulado por normas legais estabelecidas e fiscalizadas pelo aparelho de Estado. O núcleo essencial dessa estrutura é o aparato repressivo, cuja função primeva é a manutenção da ordem, a ordem capitalista. A simples ameaça de repressão ou a certeza de que ela virá diante de qualquer desafio à ordem dominante já é um poderoso fator de controle social. O Estado de classe proíbe, interdita, reprime e gera ideologias que o justificam. Embora não seja o único centro de poder ou de geração de ideologia, é o Estado que coloca e recoloca as relações de poder dentro da ordem capitalista, no Brasil e em outros países.
Hoje, para a agravar mais esse perfil do Estado brasileiro, vive-se num regime político oriundo do golpe de Estado de 2016. A correlação de forças sociais e a relação entre instituições do próprio Estado de classe favorece um regime mais autoritário e repressivo. Para piorar, no governo federal e em vários estados da federação há governos de extrema-direita que acentuam a natureza repressiva do Estado e do regime político. Bolsonaro, na presidência, e Witzel, no governo do estado do Rio de Janeiro, não expressam apenas a necessidade de controle social para manter ordem de reprodução do capital. Eles representam uma ofensiva na retirada de direitos e numa maior exploração da força de trabalho. Daí sua truculência. O objetivo é aniquilar as próprias conquistas da democracia burguesa brasileira para destruir conquistas dos subalternos (sindicatos, legislação trabalhista, previdência pública, direito de greve).
Os assassinatos da vereadora Marielle Franco, do músico Evaldo Rosa, agora, de Ághata Vitória não são fatos ocasionais, representam algo mais profundo: uma guerra civil contra a maioria da população. O crescimento do número de feminicídios, de assassinatos de lideranças de movimentos sociais, de casos de intimidação e de violência por parte do aparelho estatal compõem a face da extrema-direita brasileira, nutrida pelo Estado e pelas correntes políticas tradicionais da burguesia.
Só há uma forma, historicamente comprovada, de deter a barbárie que avança: a auto-organização e a atividade dos de baixo em defesa de seus interesses, de seus direitos e de suas conquistas.
É preciso barrar a sangria dos filhos e filhas de nossa classe!
Frederico Costa
Professor da UECE - Universidade Estadual do Ceará
Diretor do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará – SINDUECE/ANDES-SN
Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário-IMO
Diretor do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará – SINDUECE/ANDES-SN
Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário-IMO