Domenico Losurdo e sua
biografia “Stalin: história crítica de uma legenda negra” foram consagrados
no Brasil, o primeiro como intelectual marxista iconoclasta e a segunda como sua
brilhante obra revisionista de mitos históricos consolidados. Não era para
menos. O homem propôs fatos totalmente desconhecidos, todos contribuindo para
resgatar o papel gentil e progressista do “Pai dos Povos”.
Propõe ou sugere, por
exemplo, campanha terrorista contra a URSS -assassinatos, sabotagens de trens,
etc.- organizada por Trotsky desde o exterior. Nada, portanto, mais justo do
que o massacre de comunistas internacionalistas na URSS pelo estalinismo!
Em quem o homem apoia
essa revelação capaz de lançar por terra tudo que já foi até hoje escrito? Nos
arquivos do PCUS, agora à disposição dos historiadores? Nos papéis de Trotsky,
depositados na Universidade de Harvard? Em algum fundo documental apenas
descoberto? Não. Nesse caso, Domenico Losurdo apoia-se essencialmente em um
livro do jornalista italiano Curzio Malaparte, Tecnica Del Colpo di Stato,
publicado em 1931, em Florença, na Itália fascista! E se esquece, sobretudo, de
dizer que o autor, um oportunista e farsante de sucesso, como “fascista della
prima ora”, participara da Marcha sobre Roma, e prestara a seguir importantes
serviços aos camisas negras italianos.
E o uso oportunista de
fontes tão confiáveis como bilhete premiado vendido na porta do banco, não é um
deslize [nesse caso gravíssimo] na biografia escrita por Losurdo, espécie de
lixeira historiográfica. É a norma. Se a moda pegar, mui logo teremos
trabalhos, citando o Olavinho, reconhecidos como obras historiográficas em
nosso cada vez mais triste país!
Mário Maestri
Professor da UPF - Universidade de Passo Fundo