Especificamente, vemos o fascismo como uma expressão da decadência
e desintegração da economia capitalista e como um sintoma da dissolução do
Estado burguês.
Clara Zetkin
O
fascismo tornou-se um tema atual. Não é mais algo do passado. A extrema direita
cresce em vários lugares do mundo. No Brasil, depois do golpe de Estado de 2016
e do governo ilegítimo de Michel Temer, foi eleito fraudulentamente Jair
Bolsonaro para presidente. De fato, há um ano a extrema direita governa o país.
Por isso, importância de entender o
fascismo, movimento típico da direita radical, para poder combater e derrotar
todas suas formas que ressurgem das sombras para defender o sistema decadente
capitalista. Nesse sentido, o diálogo com revolucionários que viram os
movimentos fascistas nascerem e se desenvolverem é condição para a vitória luta
socialista nos dias atuais.
Leon
Trotsky, em um texto de 1932, apanhou o essencial do fascismo:
No momento que os recursos
policiais e militares “normais” da ditadura burguesa, em conjunto com as suas
defesas parlamentares já não são suficientes para manter a sociedade num estado
de equilíbrio – chega a vez dos regimes fascistas. Através da organização
fascista põe em movimento as massas da pequena burguesia enlouquecida e os
bandos desclassificados e desmoralizados do lumpemproletariado – todos os
inúmeros seres humanos que o capital financeiro ele próprio levou ao desespero
e à fúria. Do fascismo a burguesia exige um trabalho
completo; uma vez que ele recorre ao método da guerra civil, ele insiste em ter
paz por um período de anos. E a organização fascista, através do uso da pequena
burguesia como tropa de choque, esmagando todos os obstáculos no seu caminho,
faz um trabalho completo. Após a vitória do fascismo, o capital financeiro
direta e imediatamente concentra nas suas mãos, como que com tenazes de aço,
todos os órgãos e instituições de soberania, a administração executiva, e os
poderes educacionais do estado: todo o aparelho de Estado, juntamente com o
exército, os municípios, as universidades, as escolas, a imprensa, os
sindicatos, as cooperativas. Quando um Estado se torna fascista, isso não
significa apenas que a forma e os métodos do governo mudaram de acordo com o
modelo estabelecido por Mussolini – as mudanças nesta esfera afinal jogam um
papel menor – mas significa acima de tudo que as organizações dos trabalhadores
são aniquiladas, que o proletariado é reduzido a um estado amorfo, e que é criado
um sistema de administração que penetra profundamente nas massas o qual serve
para frustrar a cristalização independente do proletariado. Eis precisamente o
fundamental do fascismo... [2]
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Baseado na
teoria de Trotsky sobre o fascismo, presente em vários textos dos anos 1930,
Ernest Mandel (1976) identificou uma unidade de elementos integrados em uma
totalidade histórica. Desses, o momento determinante da ofensiva fascista é o
objetivo de destruir a “democracia operária”, isto é, o movimento operário
organizado em sindicatos, cooperativas e partidos, além de suas conquistas
históricas. Eis os seis aspectos do movimento fascista ocorridos com destaque
na Itália e Alemanha.
Primeiro, a ascensão do fascismo foi expressão
de uma crise estrutural do capitalismo que coincidiu, nos anos 1929-1933, com
uma crise econômica clássica de superprodução. De fato, ocorreu a
impossibilidade da acumulação normal de capital dentro das condições existentes
do nível de salários reais, da produtividade do trabalho da disponibilidade de
matérias-primas e mercados. Nesse contexto, a tomada do poder pelo fascismo é a alteração pela força e pela
violência, a favor dos grupos decisivos do capital monopolista, das condições
de reprodução do capital.
Segundo, na época do capitalismo
monopolista, a burguesia exerce seu domínio político de maneira mais produtiva
por meio da democracia parlamentar burguesa. Por duas razões: a redução das
tensões sociais através da concessão de certas reformas, e por outro
possibilita às diversas frações burguesas disputarem e participarem do
exercício do poder político por meio de instituições como partidos,
universidades, organizações patronais entre outras. Tal domínio, no entanto,
exige o equilíbrio estável de forças históricas e sociais. Quando há uma
ruptura neste equilíbrio, devido a uma crise econômico-social, torna-se
necessária a instauração de uma forma mais centralizada do poder de Estado, mesmo que isto signifique a renúncia do
exercício direto dos negócios públicos por parte da burguesia.
Terceiro,
a maior centralização do Estado, para a recomposição do processo de acumulação
capitalista pressupõe a destruição de conquistas do movimento operário, o que
não pode ser realizado por meios meramente técnicos. A simples repressão não
tem capacidade de atomizar e desmoralizar, por um longo período, uma classe
social consciente, impedindo a resistência espontânea dos trabalhadores. Para
isso ocorrer é necessário um movimento de massas que desgaste e reprima os
setores mais conscientes da população trabalhadora, por meio do controle
político dos assalariados, da influência ideológica sobre os setores mais
atrasados e da efetivação da colaboração de classes pelo enaltecimento dos
interesses maiores da “nação” ou da “raça”.
Quarto, a base de tal movimento de
massas é a pequena burguesia, vitimada além do processo de centralização e
concentração de capital, pela crise estrutural do capitalismo, o que provoca
falências das pequenas empresas e desemprego de técnicos e diplomados. Tal
situação conduz, fruto do desespero, à constituição de um movimento político
pequeno-burguês, que mistura num caldo de cultura nacionalismo extremo,
demagogia anticapitalista e ódio visceral ao movimento operário organizado. Sob
a bandeira de combate ao “comunismo ateu” e às “doutrinas alienígenas” o
movimento fascista começa atacando fisicamente os operários, suas organizações
e manifestações. Em seu desenvolvimento até a tomada do poder, aumenta a
dependência financeira e política de setores da burguesia monopolista.
Quinto, a ascensão do movimento fascista
significa o esmagamento de qualquer resistência popular. A experiência
ítalo-germânica demonstra que, inicialmente, os grupos fascistas organizam a
mais desesperada parcela da pequena burguesia. O grosso das massas
pequeno-burguesas, como os setores mais atrasados e desorganizados dos
assalariados, oscilam entre a reação fascista e o movimento político dos
trabalhadores. É da incapacidade deste de oferecer uma alternativa para a
crise, de acordo com seus interesses, que surge a possibilidade da vitória do
fascismo.
Sexto,
após a derrota do movimento operário, o movimento fascista é absorvido pelo
Estado burguês, reprimindo o radicalismo das bases pequeno-burguesas e servindo
aos interesses do capital monopolista.
Tais são
os elementos aproximativos da racionalidade interna do fenômeno fascista, onde
combinam-se de forma dialética fatores objetivos e subjetivos em uma mesma
totalidade, que se apresentou de forma diferenciada em vários países, conforme
suas especificidades. Nos países imperialistas, como Itália e Alemanha, o
fascismo revelou seus diversos momentos em toda sua rudeza explícita.
Frederico Costa
Professor da UECE - Universidade Estadual do Ceará
Diretor do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará – SINDUECE/ANDES-SN
Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário-IMO
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Diretor do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará – SINDUECE/ANDES-SN
Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário-IMO
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Referências Bibliográficas
[1] Com base no texto: COSTA, Frederico. A pedagogia do sigma. Cadernos
da pós-graduação em educação, v.13, 2000, Universidade Federal do Ceará - UFC.
[2] Como Mussolini triunfou? de “Que fazer? questão vital para o proletariado alemão”, 1932, Publicações VORKUTA.
[3] “...a
pequena burguesia deve ser conceituada como uma classe social própria e a
partir de duas determinações fundamentais. Primeira, a propriedade dos meios de
produção ou de serviço, que a separa qualitativamente do proletariado. Segundo,
o trabalho manual ou intelectual, que a separa qualitativamente dos
capitalistas” (ROCHA, 1989: 73).
MANDEL, E. Sobre o
fascismo. Tradução M. Rodrigues. Lisboa: Edições Antídoto, 1976.
[2] Como Mussolini triunfou? de “Que fazer? questão vital para o proletariado alemão”, 1932, Publicações VORKUTA.
ROCHA, Ronald. Teses
tardias: capitalismo e revolução social no Brasil moderno. São Paulo: Editora
Interferência, 1989.