O quadro de ódio a mulheres (misoginia) é
estarrecedor. O Brasil sai de 2019 com o título de campeão da América Latina e
Caribe em violência contra mulheres. Segundo dados do Anuário de Segurança
Pública de 2019, o ano de 2018 foi o mais violento contra as mulheres desde
pelo menos 2009. Foram mais de 180 estupros por dia. Cento e oitenta! Isso
oficialmente. A cada hora mais de sete mulheres foram violentadas e dessas mais
de cinco foram menores de 17 anos. Isso mesmo. Mais de 71% das vítimas foram
jovens de até 17 anos e, entre elas, o maior grupo foi de meninas de até nove
anos. Crianças!
A imensa
maioria desses estupros acontecem, não no meio da rua, em becos escuros, tarde
da noite, motivados por roupa curta, por estar andando sozinha ou por
embriaguez. Nem tão pouco, a maioria dos estupradores são desconhecidos, com
armas apontadas para as cabeças das vítimas. Lembram que a maioria das vítimas
são crianças? É dentro de suas casas que essas mulheres e meninas, tratadas
como propriedades de seus parentes, conhecem a violência moral, física e sexual.
Esses dados são
mais alarmantes quando consideramos que não há educação sexual em nossas
escolas e o governo federal esforça-se exatamente no sentido de impedir que
haja. Na medida em que se impede, censura, veta, persegue a discussão de gênero
e de sexualidade nas escolas, cresce o ambiente que propaga violências e abusos.
Educação sexual
não diz respeito a ensinar como fazer sexo. É, entre outras coisas, ensinar
desde cedo a essas crianças que o sexo para elas NÃO pode, que os corpos não
devem ser violados, que é crime, é errado, é violência. A falta de educação
sexual leva a vulnerabilidade. Quando alguém é contra a educação sexual nas
escolas, na prática, está defendendo que as vítimas sigam vulneráveis, com medo
e no silêncio, ou seja, defende a continuidade dos abusos sexuais.
A violência contra mulheres e, sobretudo contra
nossas meninas, é no fim das contas, uma decisão política de governantes e
parlamentares, e até por isso, precisa e pode ser parada. Pela vida das
mulheres, por todas nós.
Anna Karina
Professora da rede estadual e feminista
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Matéria publicada no Jornal O POVO em 19 de fevereiro de 2020
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Matéria publicada no Jornal O POVO em 19 de fevereiro de 2020