quarta-feira, 29 de abril de 2020

A totalidade como um fundamento constitutivo do método de Marx: a interpretação de Lukács em História e Consciência de Classe




Em História e consciência da classe, Lukács assinala de forma pontual que a categoria da totalidade constitui a essência do método de Marx. Posto que:

Não é o predomínio de motivos econômicos na explicação da história que distingue de maneira decisiva o marxismo da ciência burguesa, mas o ponto de vista da totalidade. A categoria da totalidade, o domínio universal e determinante do todo sobre as partes constituem a essência do método que Marx recebeu de Hegel e transformou de maneira original no fundamento de uma ciência inteiramente nova (LUKÁCS, 2003, p. 105, em negrito nosso).

            O método dialético de Marx é concebido, dessa forma, em oposição à “ciência burguesa”. O primado da totalidade sobre as partes que a compõem é o exato oposto desta ciência que apreende os fatos sociais apenas em seus aspectos fenomênicos fragmentados. Nesse sentido, a possibilidade de apreender a totalidade em seus fundamentos concretos resulta do ponto de vista da classe com base numa dialética materialista. De acordo com Celso Frederico (2013, p. 64) esta foi a solução encontrada por Lukács para dirimir a questão “filosófica do sujeito do conhecimento”, que não se refere mais ao “sujeito transcendental” de Kant, “[...], expressão teórica da divisão do trabalho que manterá irresoluta a antinomia entre o sujeito e objeto, e nem do místico Espírito Absoluto de Hegel, que ‘resolve’ as contradições no plano abstrato”. É o proletariado, portanto, o sujeito coletivo capaz de engendrar uma verdade que não se coaduna mais com a “contemplação” e “exterioridade” em seu processo de movimento revolucionário histórico-concreto.
            O fundamento do argumento de Lukács está pautado na premissa de que “a ciência proletária é revolucionária”, não apenas por contradizer a sociabilidade burguesa com conteúdos revolucionários, mas, principalmente em virtude da “essência revolucionária” do método do materialismo histórico. Porque, assevera Lukács: o domínio da categoria da totalidade é o portador do princípio revolucionário da ciência. Isso é um princípio revolucionário da dialética hegeliana, mas que só vai se tornar efetivamente revolucionária com Marx. Todavia, essa transformação revolucionária da dialética hegeliana, não se deu apenas nos termos de uma “inversão materialista”. Pelo contrário diz Lukács, “o princípio revolucionário da dialética hegeliana só pôde se manifestar nessa inversão e por meio dela porque a essência do método, isto é, o ponto de vista da totalidade”, bem como a consideração de todos os fenômenos parciais como aspectos do todo, “do processo dialético”, que é assimilado como unidade do pensamento e da história, foi conservado (LUKÁCS, 2003, p. 106, itálico nosso). Com efeito, o método dialético em Marx busca o conhecimento da sociedade como totalidade.
            Assim, o tratamento que o filósofo húngaro dedica à questão da totalidade encontra substrato na crítica da “ciência burguesa”, enquanto um campo científico que confere a realidade um certo “realismo ingênuo”, baseado em abstrações que não pertencem ao cerne da filosofia, são necessárias apenas do ponto de vista metodológico e são resultados, de uma lado da “separação prática” dos objetos da pesquisa e, de outro, “da divisão do trabalho” e da “especialização científicas”. O marxismo, afirma Lukács, “supera” essas divisões e separações “elevando-as” e “rebaixando-as” à condição de categorias dialéticas. No âmbito do marxismo, não existe uma “ciência jurídica”, “uma economia” ou “uma história” autônomas, mas propriamente, uma “ciência histórico-dialética”; uma unidade de pensamento e história; de sujeito e realidade pautada na compreensão da sociedade como totalidade. Sujeito e objeto estão constituídos numa interação dialética; determinados de forma recíproca pelo ponto de vista da totalidade. A “ciência burguesa” costuma considerar, de maneira “ingênua”, “consciente” ou “inconscientemente” os fenômenos sociais a partir da perspectiva do indivíduo, tão somente. Essa perspectiva não consegue atingir nenhuma totalidade. E quando muito só pode alcançar aspectos de um domínio parcial e fragmentário, desconexo e leis abstratas. Mais uma vez aqui podemos compreender o quanto Lukács começa avançar a partir de História de consciência de classe rumo a uma concepção de totalidade no sentido objetivo (ontológico). Fica patente aqui também a dupla determinação desta categoria.
            A totalidade para ser determinada, precisa também que o sujeito que a determina, seja “ele mesmo” uma totalidade. E para que o sujeito consiga compreender a si mesmo, nesse sentido, ele tem que fundamentalmente, pensar o objeto de sua investigação como totalidade. E no contexto desse postulado teórico-metodológico, são as classes que configuram esse ponto de vista da totalidade como “sujeito da sociedade moderna”. Lukács toma como referência para refutar a vulgarização do marxismo, o pensamento de Rosa Luxemburgo, em A acumulação do capital. E ele discute a questão nos seguintes termos: “[...] Essa banalização do marxismo, sua inflexão num sentido ‘científico burguês’ encontraram sua primeira expressão clara e aberta nos Pressupostos do socialismo, de Bernstein” (LUKÁCS, 2003, p. 109, itálico no original). Esse livro de Bernstein destaca Lukács, começa desferindo um ataque ao método dialético em favor da ciência exata, e finaliza com uma acusação atribuindo à Marx o erro de ter incorrido no blanquismo.
            Para Lukács isso não é um mero acaso:
[...], pois tão logo se abandonam o ponto de vista da totalidade, o ponto de partida e o termo, a condição e a exigência do método dialético, tão logo a revolução deixa de ser compreendida como um momento do processo para ser vista como ato isolado, separado da evolução global, o aspecto revolucionário de Marx deve necessariamente aparecer com uma recaída no período primitivo do movimento operário, no blanquismo (LUKÁCS, 2003, p. 109)
             O oportunismo e o reducionismo de Bernstein desfiguram o caráter dialético da história em Marx. Lukács afirma que isso se torna perfeitamente compreensível por se tratar do próprio método da economia vulgar. E nesse contexto, ao se referir aos debates teóricos travados em torno do problema suscitado em Acumulação do capital de Rosa Luxemburgo:

Discutia-se, ao contrário, se existia realmente um problema e contestava-se com extrema energia a existência de um problema efetivo. No que se refere ao método da economia vulgar, isso é perfeitamente compreensível e até necessário. Pois, se a questão da acumulação, por um lado, é tratada como um problema particular da economia política, por outro, do ponto de vista do capitalista individual, percebe-se que não existe um verdadeiro problema (LUKÁCS, 2003, p. 111).

            O problema central, todavia, adverte Lukács é que: “[...] Essa recusa de todo o problema está estreitamente ligada ao fato de que os críticos de Rosa Luxemburgo ignoraram a parte decisiva do livro As contradições históricas da acumulação (LUKÁCS, 2003, p. 111, em itálico nosso) e, consequentemente, formularam uma questão que se configurou da seguinte maneira:

[...] são corretas as fórmulas de Marx, que se baseiam no fundamento de uma hipótese metodologicamente isolante de uma sociedade composta apenas de capitalistas e proletários? Qual a melhor maneira de interpretá-los? Os críticos ignoravam por completo o fato de que essa hipótese, em Marx, era apenas uma hipótese metodológica para compreender o problema de maneira mais clara, antes de avançar para a questão mais abrangente, que situava o problema em relação à totalidade da sociedade (LUKÁCS, 2003, p. 111).

            Aqui Lukács destaca que os “oportunistas pragmáticos” ignoraram a questão fundamental trata por Marx em O capital que foi a “acumulação primitiva”. Precisamente em relação ao fato de que todo O capital constitui apenas “um fragmento incompleto” que foi interrompido no exato momento em que tal problema poderia ter sido dirimido. Nesse sentido, o papel de Rosa Luxemburgo, diz Lukács, foi fundamentalmente, “retomar o fragmento de Marx e completá-lo conforme seu espírito”. Rosa Luxemburgo, ao retomar os fundamentos da crítica de Marx à economia política clássica visa refutar a apologia ideológica tecida pelos economistas burgueses ao capitalismo. Os “economistas burgueses” identificavam “as leis naturais” descobertas por Ricardo e Smith com o conjunto da realidade social e, assim, justificavam a sociedade capitalista como a única sociedade possível e eterna conforme a “natureza do homem” e sua racionalidade.
            Conforme ressalta Lukács: assim como as “leis naturais” de Ricardo (que se identificam com a realidade social) se constituem como uma justificação ideológica de “autodefesa” para o capitalismo ascendente, a interprestação de Marx e a identificação de suas “abstrações” com a totalidade da sociedade, também, configura uma autodefesa para a “racionalidade” do capitalismo decadente. “E do mesmo modo”, confirma Lukács,

[...] como a concepção da totalidade pelo jovem Marx havia iluminado nitidamente os sintomas patológicos do capitalismo ainda florescente, o último brilho do capitalismo adquire na perspectiva de Rosa Luxemburgo, pela integração do seu problema fundamental na totalidade do processo histórico, o caráter de uma dança macabra, de uma marcha de Édipo para seu inelutável destino (LUKÁCS, 2003, p. 114).
            A crítica de Rosa Luxemburgo[1] aos oportunistas da “economia vulgar marxista”, de acordo com Lukács, é rigorosamente fundamentada nos postulados do método e da exposição do próprio Marx. E acerca do método correto de exposição Lukács reporta-se à Miséria da filosofia[2] (1847) para salientar que “as categorias econômicas são apenas as expressões teóricas, as abstrações das relações sociais de produção” (LUKÁCS apud MARX, 2003, p. 115). As categorias expressam o movimento da realidade. E elas são “transitórias” e “históricas”. Nessa obra de Marx, Lukács captura a essência do método  dialético: a exposição histórica dos problemas sociais; a historicidade concreta da vida social.
            É nesse sentido, que Lukács aponta para o problema central do método dialético: a categoria da totalidade. E enfatiza que foi na Fenomenologia do espírito de Hegel que esse princípio categorial metodológico ganhou um aporte convincente e que “jamais foi abandonado por Marx”. Com efeito “[...] a unificação hegeliana – dialética – do pensamento e do ser, a concepção de sua unidade como unidade e totalidade de um processo, formam também a essência da filosofia da história do materialismo histórico” (LUKÁCS, 2003, p. 116, itálico nosso). Essa unificação hegeliana entre pensamento e ser; a unidade entre sujeito e objeto, é capturada por Marx de acordo com Lukács, em face do próprio Hegel e bem mais contra os seus “epígonos”. Para Lukács, o “idealismo absoluto” dos epígonos de Hegel redunda na dissolução da “totalidade primitiva do sistema”; na separação da dialética da história viva e, por conseguinte, da supressão da unidade dialética entre pensamento e ser. Dessa forma, para Lukács, a totalidade comporta uma dupla determinação pelo pensamento e pelo ser, constituídos enquanto uma unidade, mas onde o sujeito é o pressuposto efetivo da determinação categorial.
            Todavia ainda observa Lukács, que o dogmatismo materialista dos “epígonos de Marx”, reproduz a mesma desagregação da totalidade concreta da realidade histórico-social. E nesse aspecto:
 Se o método dos epígonos de Marx não degenera como o dos epígonos de Hegel num esquematismo intelectual vazio, ele se esclerosa, numa ciência específica e mecanicista, em economia vulgar. Se os primeiros acabaram perdendo a capacidade de combinar os acontecimentos históricos com suas construções puramente ideológicas, os segundos se mostram igualmente incapazes de compreender tanto o elo das formas ditas “ideológicas” da sociedade com seu fundamento econômico, como a própria economia como totalidade, como realidade social (LUKÁCS, 2003, p. 117, aspas no original e itálico nosso).

            Nesse contexto, o fundamento econômico se configura como a própria realidade social, como totalidade. Aqui se evidencia, portanto, o elemento central da discussão quando se pensa o método dialético: o problema do conhecimento da totalidade do processo histórico-social. Lukács entende que a realidade social só pode ser concebida e apreendida em suas determinações históricas intrínsecas. tal como a “expressão literária” ou “científica” de um problema emerge como expressão de uma totalidade social, o ponto de vista da totalidade, nesse aspecto, também se apresenta como um problema do conhecimento da sociedade como totalidade social “como expressão de suas possibilidades, de seus limites e de seus problemas”. Daí que o conhecimento da totalidade do processo histórico se constitui numa problemática do próprio processo histórico, visto que, afirma Lukács (2003, p. 117): “A história de um determinado problema torna-se efetivamente uma história dos problemas”. Para exemplificar e justificar essas questões, Lukács mais uma vez faz referência às obras de Rosa Luxembrugo e Lênin (Acumulação do capital) e (O Estado e a revolução), respectivamente, com o intuito de salientar o rigor da postura dialeticamente correta do modo de exposição histórico dos problemas levantados por esses autores, que fazem surgir o próprio processo histórico em suas obras.
            Com efeito, a pesquisa histórico-literária de um problema resulta em última análise, na maneira mais correta de exprimir a “problemática do processo histórico”. E exatamente em virtude dessa relação com as tradições do “método” e da “exposição” de Marx e Hegel foi que “Lênin fez da história do problema uma história interna das revoluções europeias do século XIX” e no mesmo sentido, na “abordagem histórico-literária dos textos de Rosa Luxemburgo se desenvolve numa história das lutas em torno da possibilidade e da expansão do sistema capitalista” (LUKÁCS, 2003, p. 118). A questão da historicidade concreta, portanto, torna-se um fundamento constitutivo do  método dialético de Marx, o que resulta na apropriação crítica da realidade social mediante uma síntese entre subjetividade e objetividade; teoria e prática configurada na unidade dialética da totalidade do processo histórico.
            Para Lukács, a consideração da totalidade no estudo da realidade econômica e social representa a maneira correta de apropriação do método dialético,

Afinal, o rompimento com a consideração da totalidade rompe também a unidade da teoria e prática. A ação, a práxis – nas quais Marx faz culminar suas teses sobre Feuerbach – implicam, por essência, uma penetração, uma transformação da realidade. Mas a realidade só pode ser compreendida e penetrada como totalidade, e somente um sujeito que é ele mesmo uma totalidade é capaz de penetração (LUKÁCS, 2003, p. 124, itálico no original).

            Portanto, podemos concluir a partir dessa afirmação de lukács que desconsiderar a totalidade, no plano do método, é romper com a “unidade da teoria e da prática”. Essa questão indicada pelo filósofo húngaro está baseada num postulado Hegeliano, que sustenta a ideia do verdadeiro é tanto substância como sujeito. Pois Hegel, diz Lukács (2003, p. 124) “desmascarou, assim, a falha mais grave, o limite último da filosofia clássica alemã, ainda que o cumprimento real dessa exigência tenha sido recusado à sua própria filosofia”, muito embora, ela (a filosofia hegeliana) sob inúmeros aspectos, tenha permanecido prisioneira dos “mesmos limites” dos seus predecessores. Coube à Marx, nesse sentido, “descobrir concretamente” essa verdade enquanto sujeito e “estabelecer, assim, a unidade da teoria e da práxis, ao centrar na realidade do processo histórico e limitar a ela a realização da totalidade reconhecida e ao determinar, portanto, a totalidade cognoscível [...]” (LUKÁCS, 2003, p. 125, itálico nosso), ou seja, no entendimento de Lukács a totalidade é prefigurada num primeiro momento pelo processo histórico. Contudo, vemos que na dupla determinação desta categoria o sujeito é que determina o objeto a ser conhecido.
            A totalidade cognoscível aponta para a perspectiva de um “ângulo de visão”, ou o ponto de vista de classe. Nos termos de Lukács, essa questão se apresenta como uma “superioridade metódica e científica”, porque “somente a classe, por sua ação, pode penetrar a realidade social e transformá-la em sua totalidade” (LUKÁCS, 2003, p. 125). O proletariado em sua tarefa histórica passa a representar a única classe capaz de engendrar as transformações da realidade social:

Por isso, por se a consideração da totalidade a “crítica” que se exerce a partir desse ponto de vista é a unidade dialética da teoria e da práxis. Ela é, numa unidade dialética indissolúvel, ao mesmo tempo fundamento e consequência, reflexo e motor do processo histórico-dialético. O proletariado, como sujeito do pensamento da sociedade, rompe de um só golpe o dilema da impotência, isto é, o dilema do fatalismo das leis puras e da ética das intenções puras (LUKÁCS, 2003, p. 125, aspas no original e negrito nosso).

            Nesse plano teórico, Lukács concebe a totalidade como uma unidade dialética indissolúvel; uma unidade de teoria e prática, âmbito no qual o proletariado se constitui como sujeito de pensamento, portador de uma visão de mundo que se identifica com a realidade concreta do mundo social que por ele deve ser transformado, tanto por razões de ordem material como ética. Assim, Lukács reconhece que o marxismo admite a totalidade “tanto como uma lente teórica para revelar a interconexão sistemática de todos os aspectos da vida social, mas também como um ideal normativo sobre o qual se pode reconstruir uma verdadeira existência social” (BOUCHER, 2015, p. 126, itálico nosso). Desse modo, a desumanização capitalista e a fragmentação no plano cultural, correlativamente, configuram os principais obstáculos para o proletariado atingir uma consciência revolucionária.
            O conhecimento por parte do marxismo do caráter historicamente limitado do capitalismo, no caso “o problema da acumulação”, acaba por se tornar uma “questão vital”. Efetivamente “porque somente esse elo, a unidade da teoria e da prática, pode fazer manifestar como fundamento a necessidade da revolução social, da transformação total da totalidade da sociedade” (LUKÁCS, 2003, p. 125). Para Lukács, o reconhecimento do caráter histórico da totalidade cognoscível e o próprio elo com a ação revolucionária do proletariado, constitui o momento em “que o circulo do método dialético – essa determinação da dialética que também vem de Hegel- pode se fechar” (Idem, itálico nosso).
            Pensando a possibilidade concreta da revolução, Lukács reconhece que a unidade dialética ente teoria e prática, não pode constituir uma “simples consciência”, nem uma “pura teoria” e, muito menos, uma “simples exigência”, como um “dever” ou “norma de ação”. A realidade do processo histórico “imprime à consciência do proletariado” um exigência, um caráter “latente e teórico”, mas, que o impele a agir de forma ativa na totalidade do processo. Essa forma de consciência de classe, diz Lukács, é o partido e, nesse ponto, os problemas teórico-práticos da revolução está diretamente ligado ao papel dirigente de uma instância que organize de forma concreta e sistemática a “vontade coletiva”.
 Antonio Marcondes dos Santos Pereira

Professor substituto do curso de Pedagogia (UECE)
Membro do GPOSSHE (UECE)
Photo by sergio souza on Unsplash


REFERÊNCIAS

BOUCHER, Geoff. Marxismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

FREDERICO, Celso. A arte no mundo dos homens: o itinerário de Lukács. São Paulo: Expressão Popular, 2013.

LUKÁCS, G. História e consciência de classe: estudos sobre a dialética marxista. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

MARX, Karl. Miséria da filosofia. São Paulo: Boitempo, 2017.






[1] Lukács explica que a referência feita à Rosa Luxemburgo em História e consciência de classe ocupa um espaço tão amplo em virtude dela ser “[...] a única discípula da Marx a prolongar realmente a obra de sua vida tanto no sentido dos fatos econômicos quanto no do método econômico e, desse ponto de vista, a colocar concretamente no nível atual do desenvolvimento social” (LUKÁCS, 2003, p. 52, itálico no original).
[2] Nesse contexto teórico, cabe destacar um aspecto decisivo no método dialético de Marx aqui percebido, que é a historicidade dos processos sociais. Marx ao refutar de forma contundente o livro do Sr. Proudhon Sistema das contradições econômicas ou filosofia da miséria (1847) assevera que os economistas burgueses “[...] têm uma maneira singular de proceder. Para eles, só existem duas espécies de instituições: as da arte e as da natureza. As instituições feudais são artificiais, as da burguesia são naturais. Nisso, eles se parecem com os teólogos, que também estabelecem dois tipos de religião: toda religião que não é deles é uma invenção dos homens, ao passo que a deles é uma emanação de Deus. Dizendo que as relações atuais – as relações da produção burguesa – são naturais, os economistas dão a entender que é nessas relações que se cria a riqueza e se desenvolvem as forças produtivas segundo as leis da natureza. Portanto, essas relações são leis naturais independentes da influência do tempo. São leis eternas que devem sempre reger a sociedade. Assim, houve história, mas não há mais. Houve história porque existiram instituições de feudalidade e porque nelas se encontram relações de produção inteiramente diferentes das da sociedade burguesa, que os economistas querem fazer passar por naturais, logo eternas” (MARX, 2017, p. 110). Marx destaca, portanto, que as leis da economia bem com a sociedade a que ela corresponde, não são eternas e nem imutáveis, mas pelo contrário “as formas econômicas sob as quais os homens produzem, consomem, trocam, são transitórias e históricas” (Idem, p. 189, itálico nosso).