Colapso,
substantivo masculino que, em sentido figurado, significa redução brusca de
eficiência, de capacidade, estado daquilo que está desmoronando, ruína. Bem, essa
é a palavra da vez na boca de gestores municipais e estaduais diante da crise
gerada pela Covid-19.
Arthur Virgílio Neto (PSDB),
prefeito de Manaus, na semana passada, além de criticar Bolsonaro por
"desmobilizar" a população sobre a importância do isolamento social,
afirmou que a cidade já vive um "colapso funerário" com as mortes
causadas pela Covid-19,
"Está havendo um colapso funerário, os enterros estão crescendo de maneira exponencial, as mortes. É uma situação que deixa as pessoas nervosas, estressadas. Atitudes como a do presidente, que sai tranquilamente às ruas e mostra que para ele não há perigo em nada, fazem com que hoje muitas ruas em Manaus estejam cheias de carros"[1].
No
Ceará, a projeção é de que se registre 250 mortos por dia a partir do
início do mês de maio. Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Dr. Cabeto),
Secretário de Saúde do Estado, em reunião com o Sindicato da Indústria da
Construção do Ceará (Sinduscon-CE), no dia 13, fez as seguintes declarações
sobre a situação que será enfrentada nos próximos dias com a pandemia da
Covid-19.
"No sistema público, eu não tenho mais leito de UTI, acabou. A gente tinha uma compra da China, que tinha me prometido entregar 250 respiradores, mas soube ontem (13) que não vou receber nenhum ... os EPIs, máscaras, viseiras, luvas que são necessárias a proteção do profissional de saúde, eles têm cinco dias de estoque. Estou escrevendo ao ministro (Luiz Henrique Mandetta) que o sistema de saúde do Ceará colapsou. E que nós vamos começar a ter morte de pessoas não entubadas e já estão tendo"[2].
Em breve, essas notícias de
colapso serão mais comuns. Não há estrutura, planejamento e vontade política
para superar essa crise sanitária. O conflito Bolsonaro-Mandetta é um suspiro
cômico na catástrofe estabelecida. De fato, o governo de extrema-direita de
Bolsonaro, as gestões golpistas como de Dória (SP), Witzel (RJ), Zema (MG) e
Caiado (GO), além das administrações de frente popular (BA, CE, MA, PI e RN),
são incapazes de superar a atual crise sanitária por serem tributárias, em
maior ou menor grau, da política de austeridade própria do denominado
neoliberalismo, o que se reproduz no quadro municipal.
Um exemplo claro disso é que não
existe nenhuma proposta efetiva de revogação da Emenda Constitucional Nº 95/2016
nem suas similares estaduais. Em nome da austeridade foram congelados recursos
para saúde por 20 anos, corrigidos apenas pela inflação medida pelo IPCA.
Foram retirados, na esfera
federal, aproximadamente 20 bilhões de reais da saúde, em 2019[3].
Enquanto isso, para combater os efeitos negativos da pandemia do coronavírus
sobre o sistema financeiro, o Banco Central anunciou, em março, a
disponibilidade R$ 1,216 trilhão para os bancos brasileiros, equivalente a
16,7% do Produto Interno Bruto (PIB)[4].
Resumo da ópera: as classes
dominantes, seus partidos, suas entidades, suas administrações, seus ideólogos
e representantes espirituais não ligam a mínima para a saúde da maioria do povo
brasileiro. O importante é manter o ciclo reprodutivo do capital no Brasil com
seus altos lucros baseados na superexploração da força de trabalho.
Muita demagogia, poucas soluções.
A burguesia, interna e externa, só pensa nos seus interesses. Não irá cortar
sua própria carne enquanto puder sacrificar a vida de milhões de trabalhadores
e trabalhadoras. Isso não é uma questão moral, mas histórica e social. Na
verdade, em última instância, quem está em colapso é a própria burguesia e o
capitalismo, que só conseguem aprofundar a barbárie.
A indústria da saúde no Brasil, o
setor farmacêutico, os planos de saúde, os hospitais privados e as empresas de
materiais médicos precisam sofrer imediata intervenção estatal sob o controle
da população. Ao invés de dinheiro para os bancos, anistia geral das dívidas,
que os grandes capitalistas paguem pela crise.
Tais medidas, de defesa da vida, só podem ser impostas pela ação de
milhões de explorados e oprimidos. A esquerda hegemônica precisa romper com a
burguesia e sua austeridade, precisa vocalizar a vontade da maioria nacional.
Prof. Dr. Frederico Costa
Professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE. Coordenador do
Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário – IMO.
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