No
dia 10 de maio de 1933, há 87 anos atrás, Joseph Goebbels (1897-1945), ministro
da propaganda de Hitler, compareceu à Opernplatz[1] em Berlim, para uma
cerimônia grotesca e planejada detalhadamente: a queima de livros destinada a
demonstrar a rejeição da Alemanha nazista à cultura intelectual “subversiva” e
“degenerada” da República de Weimar. Uma multidão de cerca de 40 mil pessoas apoiou
esse ritual simbólico de purificação da cultura alemã. Estudantes nazistas
lançavam livros de autores judeus e de esquerda numa imensa fogueira,
acompanhados por canções patrióticas, marchas e aplausos efusivos. A barbárie
não parou aí. Manifestações similares foram realizadas em cidades
universitárias por todo Reich. Boa parte dos livros entregues às chamas era de
bibliotecas das universidades, mas ocorreram casos em que cidadãos particulares
também levaram seus exemplares para os crematórios da cultura.
A
queima de livros fazia parte de um movimento coordenado e subordinado à
denominada Glechschaltung (mudar na mesma direção, linha ou corrente), com
o objetivo de produzir uma Volksgemeinshaft (comunidade nacional ou do
povo) uniforme, harmoniosa e militante baseada na afinidade cultural e “racial”.
Esse projeto nazista retirou a autoridade dos governos e parlamentos estaduais,
provocou expurgo no serviço público e levantou a necessidade de “despolitizar”
a educação, com o afastamento de acadêmicos e pensadores dissidentes e/ou
judeus sob a falsa alegação de liberdade de investigação e expressão.
De
volta ao Brasil dos dias atuais, a barbárie apresenta-se com novos atores e
roteiro. País de capitalismo periférico, com passado escravista colonial
recente, sob um governo de extrema direita. O bolsonarismo possui uma Glechschaltung
neofascista e fundamentalista que visa aumentar o grau de superexploração
do trabalho, destruir as organizações das massas trabalhadoras e dos movimentos
sociais, transformar o Brasil numa colônia dos Estados Unidos e aniquilar as
conquistar democráticas arrancadas na luta contra a ditadura militar.
Nesse
contexto hediondo, de crise econômica e pandemia, a incompetência do ministro
da Educação Abraham Weintraub, de fato, é um projeto de destruição da educação
pública, tanto básica como superior. Contingenciamento de recursos, erros no
ENEM e no SISU, escolha do criacionista Benedito Guimarães Aguiar Neto para
dirigir a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), redução
de bolsas de mestrado e doutorado para programas de pós-graduação, ataques ao
PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), proposta do Future-se contra a Universidade Pública, tudo na
perspectiva de combater o suposto “marxismo cultural” e incentivar a
privatização da educação pública.
O conjunto dessas
medidas contra a escola pública são inseparáveis das diversas facetas do governo
Bolsonaro. A reivindicação de “Fora Weintraub!” é inócua e equivocada na atual
conjuntura. O centro deve ser a extirpação do governo Bolsonaro e de seu
projeto da vida nacional. A retirada de Ricardo Vélez Rodríguez do
Ministério da Educação trouxe-nos Abraham Weintraub, outro
beócio e discípulo do astrólogo Olavo de Carvalho. Apesar de seu histórico de
reprovação, seus erros de português e de matemática, Weintraub cumpre bem sua
função no projeto bolsonarista. E há precedentes na história da perversão
nazista.
Bernhard Rust
(1883-1945), demitido anteriormente do cargo de mestre-escola provincial por
debilidades mentais, foi elevado à Ministro
da Ciência, Educação e Cultura Nacional entre 1934 a 1945, por sua amizade por
Hitler e seu fanatismo.
A defesa da educação,
hoje, contra Weintraub e possíveis imbecis que possam substituí-lo, passa pelo:
Fora Bolsonaro e Mourão! Militares nos quartéis! Eleições gerais!
Frederico Costa
Professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE e Coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário – IMO.
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[1] Hoje Bebelplatz, onde encontram-se
a Ópera de Berlim, edifícios da Universidade Humboldt e a Catedral de Santa Edwiges, a igreja
católica romana mais antiga da cidade.