O
livro Calibã e a Bruxa, da ativista feminista e professora Silvia Federici,
apresenta uma investigação de como a condenação de mulheres a “bruxas” no
começo da Era Moderna mantém uma profunda relação com a acumulação primitiva e
o desenvolvimento do capitalismo. Por meio de uma analogia com a peça teatral
“A tempestade”, de William Shakeaspeare, Silvia intitula seu livro usando os
nomes de personagens carregados de uma simbologia que transcende a
verossimilhança sem diminuir o caráter literário.
A
autora apresenta uma ampla pesquisa sobre as mulheres na transição do
feudalismo para o capitalismo, através da qual afirma com argumentação
contundente que a caça às bruxas tentou destruir o controle que as mulheres
haviam conseguido exercer sobre sua própria função reprodutiva, construindo o
caminho para o desenvolvimento de um regime patriarcal um tanto mais opressor.
Analisando
as circunstâncias históricas específicas, o contexto das crise demográfica e
econômica ocorridas na Europa nos séculos XVI e XVII, a autora examina a
reorganização do trabalho doméstico, da vida familiar, da criação dos filhos,
da sexualidade, das relações entre homens e mulheres e da relação entre
produção e reprodução nesse período e aponta fortes conexões entre a caça às
bruxas e o desenvolvimento contemporâneo de uma nova divisão sexual do trabalho
que aprisionou e subjugou as mulheres ao trabalho reprodutivo.
Uma
obra essencial não apenas pelo amplo conhecimento que oferece como também pelo
fato de ampliar nossa consciência sobre o caráter global do desenvolvimento capitalista
e nos ajudar a entender a dominação de uma classe e suas implicações em termos
práticos, políticos e ideológicos na formação de toda uma sociedade.