No dia 9 de agosto ocorreu eleição na Bielorrússia
(antiga Rússia Branca). Os resultados deram vitória ao ex-burocrata estalinista
Alexander Lukashenko contra sua rival, a candidata "independente"
Svetlana Tikhanovskaya, representante de um programa neoliberal e pró-OTAN. O
resultado, com a esmagadora maioria de 80% dos votos, provavelmente
adulterados, deu origem a uma mobilização pela democracia no país, que conta
com o apoio da grande mídia, da União Europeia (EU) e de setores de esquerda.
O regime da Bielorrússia parece algo
descontextualizado. O governo burocrático local de Lukashenko chegou ao poder
após o colapso da URSS em 1991, mas conseguiu evitar, por meio da declaração de
independência, o tratamento de choque neoliberal massivo e a destruição
econômica que afligiu a Rússia sob o regime de Yeltin. De fato, a Bielorrússia é dominada por uma
burocracia que maneja o aparelho do Estado e os ramos estratégicos da economia
nacional, herança do stalinismo, que governou o país por mais de cinco décadas,
até a queda da URSS.
A questão central da atual crise gira em torno da
ofensiva do imperialismo de desmontar as sobrevivências burocráticas para tomar
posse das riquezas naturais e indústrias nacionais. Quando a União Europeia (EU)
denomina Lukashenko como o “último ditador” da Europa, na verdade, está
assinalando que objetiva remover a casta burocrática estalinista do manejo do
Estado e da economia por meio de uma oposição liberal-burguesa. Nesse contexto,
Lukashenko, procurando manter os privilégios da camada burocrática, acusa a
oposição de querer privatizar a economia estatizada.
Nesse momento, é preciso não ter ilusões no
regime de Lukashenko. Mas, é preciso destacar que o movimento de protesto segue
a cartilha de golpes de Estado recentes: 1) começou com a contestação do
resultado eleitoral; 2) manifestantes de direita, contra a corrupção, bandeiras
nacionais e nazistas; 3) predominância de classe média e alguns poucos
trabalhadores desorganizados. Há, nas mobilizações, bandeiras vermelhas e
brancas da "Bielorrússia", usadas por elementos pró-nazistas na
Segunda Guerra Mundial. Além de ligações dos líderes com a Ucrânia e outros
países bálticos.
Importante dizer que o pelotão de
choque nazista-neoliberal obedece a interesses imperialistas. A prescrição do
Banco Mundial para o país é a seguinte:
“Mais urgentemente, o setor empresarial estatal da Bielo-Rússia precisa de uma reestruturação abrangente. E o que isso implicaria?
• Em primeiro lugar, mantenha públicas as empresas estatais com fins lucrativos ou privatize-as de forma transparente a preços de mercado justos.
• Em segundo lugar, manter os provedores de serviço público e reguladores públicos, mas definir claramente o que eles devem fornecer em troca de fundos públicos.
• Terceiro, reestruturar as estatais deficitárias que poderiam se tornar rapidamente lucrativas, proporcionando um bom retorno sobre qualquer investimento extra.
• E para todo o resto: encerramento ou privatização.
A classificação das empresas nessas categorias deve ser feita por especialistas independentes, a fim de obter avaliações objetivas de quais negócios são viáveis ou não” (https://blogs.worldbank.org/europeandcentralasia/why-economic-reforms-belarus-are-now-more-urgent-ever-0).
Apesar de toda a corrupção e despotismo de
Lukashenko, a economia estatizada é progressiva. A experiência histórica
demonstra a queda na expectativa de vida na Rússia causada pelo choque
econômico de Yeltsin naquele país, por exemplo. O mesmo acontecerá na Bielorrússia
se os neoliberais tomarem o poder. Por isso, é preciso:
· - defender os ganhos sociais fragmentários que ainda foram mantidos na Bielo-Rússia desde o período soviético, mesmo que pela inércia burocrática;
- defender a Bielorrússia e a Rússia, como países
capitalistas relativamente atrasados diante da ofensiva do imperialismo e seus representantes
imperialistas que buscam "mudança de regime" e "revoluções
coloridas” para aumentar a área de exploração e opressão do capital financeiro
internacional contra os povos e os trabalhadores.
- defender as conquistas sociais ainda existentes
na Bielorrússia, a propriedade estatizada contra a privatização com táticas
para superar as ilusões das massas em Lukashenko e Putin por sua inconsequência
em lutar contra imperialismo.
- defender a democracia operária e o processo de
auto-organização das massas.
Frederico Costa - Professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE e coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário – IMO.