Os
Estados Unidos (EUA) têm um projeto para si e para o mundo sintetizado na
expressão full spectrum dominance (dominação de espectro total),
cujo objetivo é estabelecer, manter e expandir a hegemonia e os lucros das
corporações estadunidenses, sob a falsa ideologia de defesa de valores
universais e democráticos. Essa perspectiva ora é coordenada por governos republicanos,
ora por governos democratas. A depender do contexto nacional e internacional,
está sempre condicionado pela luta de classes, o que faz com que a orientação
imperial dos EUA sofra momentos de cooperação, acomodação, tensão, subversão, confrontos
e conflitos armados com outros países. Em última instância, isso explica as
posturas agressivas do imperialismo estadunidense ao Afeganistão, ao Iraque, à
Líbia, à Síria, à Venezuela, à Cuba, à Coreia do Norte, à Bielorrússia, à
Rússia e à China.
O
importante a ser destacado é que, apesar do contexto e das contradições, a
perspectiva das frações da classe dominante estadunidense é manter e aprofundar
sua dominação interna e externa sobre trabalhadores, povos e nações, como uma
“delegação divina”.
Por
isso, o que está em jogo na atual disputa eleitoral entre a direita (Joe Biden,
democrata) e a extrema direita (Donald Trump, republicano) é qual a melhor
forma de manter os objetivos estratégicos do imperialismo estadunidense: 1)
manter sua hegemonia militar em todas as regiões do mundo por meio da presença
de forças militares (terrestres, aéreas e navais) capazes de inibir a
emergência de Estados rivais com capacidade militar de dissuasão dos EUA de
utilizarem o uso de força, o que inclui a tentativa constante de desarmar
Estados periféricos; 2) conservar sua hegemonia sobre os sistemas de
comunicação e de informação, controlando a elaboração e a difusão de conteúdo
pelos meios de comunicação como agências de notícias, cinema, rádio, televisão
e internet que formam posturas subjetivas dos setores dominantes e das massas
de distintos Estados e formações sociais; 3) consolidar sua hegemonia nos
organismos econômicos internacionais, como a Organização Mundial de
Comércio-OMC e o Fundo Monetário Internacional-FMI, que elaboram normas
internacionais reguladoras das relações entre Estados e as impõem por meio de
programas para enfrentar dificuldades de balanço de pagamentos e de financiamento de investimentos; 4)
expandir seu controle sobre recursos naturais no territórios de outros países e
de suas vias de acesso, o que é essencial para a economia estadunidense e suas
mega empresas multinacionais, assim como de outras potências imperialistas; 5)
preservar sua hegemonia política através do controle, tanto quanto possível, do
Conselho de Segurança das Nações Unidas, único organismo internacional que
autoriza a aplicação de sanções e o uso da força militar contra qualquer
Estado, menos contra os membros permanentes, com o apoio incondicional da
França e da Inglaterra, reservando-se o direito de agir unilateralmente quando
o interesse do imperialismo estadunidense assim o exigir; 6) continuar na
vanguarda do desenvolvimento científico-tecnológico em termos de aplicações
civis e militares, condição para seu domínio em outras áreas; 7) deixar abertos
os mercados de todos os países para seus capitais e para seus bens e serviços.
Essa
é a moldura da fake democracia da terra do Tio Sam, ou seja, as eleições
atuais não ocorrem num vácuo, mas num cenário local e global de profunda crise
econômica agravada pela pandemia do coronavírus. O acirramento da disputa entre
as frações dominantes nos EUA abre uma brecha para a intervenção das classes
subalternas estadunidenses e para a ascensão das lutas anti-imperialistas.
Frederico Costa - GPOSSHE/IMO/UECE
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