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Frederico Costa
Professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE. Coordenador do
Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário – IMO
Em 2010, as 388 pessoas mais ricas do planeta eram
donas de um patrimônio líquido privado igual ao da metade mais pobre da
humanidade. Para se ter uma noção da disparidade numérica, essas 338 pessoas
mais rica caberiam num Boeing 777 ou Airbus A340. Em 2014, eram apenas 85
bilionários para atingir esse patamar, o que exigiria um ônibus de dois
andares. Já em 2015, a quantidade de bilionários para igualar o patrimônio de
3,5 bilhões de pessoas eram 62, cabendo confortavelmente num ônibus. O 1% das famílias
mais ricas detinham, em 2017, um pouco mais da metade do patrimônio líquido
mundial, sem contar com os bens que algumas delas escondem em contas no
exterior, o que distorceria ainda mais essa distribuição (Scheidel, 2020). Tal quadro vem piorando com a pandemia, segundo o
relatório O vírus da desigualdade (https://www.oxfam.org.br/justica-social-e-economica/forum-economico-de-davos/o-virus-da-desigualdade/),
lançado
pela Oxfam em 25 de janeiro deste ano, na abertura do Fórum Econômico Mundial
realizado em Davos, na Suíça. No
contexto de crise, as mil pessoas mais ricas do mundo recuperaram todas as
perdas que tiveram durante a pandemia de covid-19 em apenas nove meses (entre
fevereiro e novembro de 2020), enquanto os mais pobres do planeta vão levar
pelo menos 14 anos para conseguir repor as perdas, devido ao impacto econômico
da pandemia. Isso, mesmo. Em todo o mundo, bilionários acumularam US$ 3,9
trilhões entre 18 de março e 31 de dezembro de 2020 – a riqueza total deles
hoje é de US$ 11,95 trilhões, o equivalente ao que os governos do G20[1]
gastaram para enfrentar a pandemia. Apenas três dos 50
bilionários mais ricos do mundo viram suas fortunas diminuírem nesse período,
perdendo US$3 bilhões entre eles. Dois bilionários que viram os maiores
aumentos em sua riqueza nesse período são dos setores de tecnologia e
automotivo, produção de baterias e espacial: Elon Musk aumentou sua riqueza
líquida em US$128,9 bilhões e Jeff Bezos, em US$78,2 bilhões. Enquanto as 25 maiores corporações dos EUA estavam em
vias de obter 11% a mais de lucros em 2020, em comparação com o ano anterior,
as pequenas empresas, naquele país, provavelmente, perderão mais de 85% de seus
lucros no segundo trimestre do ano. Entre março e agosto de 2020, bilionários
da região do Médio Oriente e Norte da África (MENA, sigla em inglês) aumentaram
sua riqueza em 20%, mais que o dobro do financiamento de emergência do Fundo
Monetário Internacional (FMI) para a região no mesmo período e quase cinco
vezes o valor do apelo humanitário das Nações Unidas para a covid-19 na região.
Na América Latina e Caribe, após a queda dos mercados, a riqueza combinada dos
bilionários aumentou 17% entre março e julho de 2020. Isso totaliza US$48
bilhões adicionais, o suficiente para pagar um terço de todos os pacotes
fiscais de estímulo introduzidos pelos governos da região em resposta à crise
do coronavírus no período. Também foram nove vezes mais do que o crédito
emergencial fornecido pelo FMI na região, no mesmo período, e mais de cinco
vezes o montante necessário para evitar que 12,4 milhões de pessoas caíssem na
pobreza extrema por um ano. Esses dados expostos pelo relatório O vírus da
desigualdade da Oxfam indicam que as pessoas mais ricas além de estarem
escapando dos piores resultados da pandemia, estão enriquecendo mais ainda. Enquanto
isso, a covid-19, com suas variações adaptativas já matou mais de dois milhões de
pessoas pelo mundo (no Brasil, mais de 220 mil), tirando emprego e renda de
milhões de pessoas, empurrando-as para a pobreza e a miséria. A
crise provocada pela pandemia expõe a incapacidade da economia de mercado
capitalista de manter a vida de bilhões de seres humanos. Nesses últimos anos,
políticas de austeridade seguidas por governos de direita, de esquerda
reformista e de extrema direita desestruturaram a saúde, a educação e a
previdência pública, também, privatizaram estatais, destruíram conquistas
trabalhistas, desregulamentaram mercados nacionais e aumentaram a precarização
do trabalho. Qualquer mínima dissonância desse roteiro foi combatida com guerras
de rapina (Iraque, Líbia Síria) ou com golpes de Estado (Honduras, Paraguai,
Brasil). E para quê? Respondo:
para os dez homens mais ricos do mundo conseguirem acumular US$ 540 bilhões
desde o início da pandemia – o suficiente para pagar pela vacina contra a
covid-19 para toda a população mundial. Cada
vez mais o dilema apresenta-se como: vida ou capitalismo? Referências SCHEIDEL, Walter. Violência
e a história da desigualdade: da idade da pedra ao século XXI. Rio de
Janeiro: Zahar, 2020.