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"Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?"
Milton Nascimento / Fernando Brant
GUERRA CIVIL E A TRAGÉDIA AMAZÔNICA
Neste artigo, discuto o nexo entre o governo de características neofascistas, que se assenhoreou de Brasília, e a tragédia que se abate no Amazonas, bem como qual deve ser o centro da tática dos que lutam pela derrocada desse condomínio governamental de extrema-direita.
Estamos em meio a uma guerra civil, pois fascismo é sinônimo de guerra civil. Cada batalha vencida pelos fascistas significa mais corpos no chão. Em suma, mais mortos. O caos, o sufoco, as mortes - nada disso é por acaso. Manaus é um exemplo. A morte por asfixia em janeiro de 2021, em grande parte, foi determinada pelo triunfo fascista nas ruas da capital amazonense no final de 2020. Essa vitória bolsonarista foi antecipada pela retomada das aulas em setembro e o triunfo da extrema-direita na eleição municipal manauara.
Aqui, cabe uma pergunta: eram fascistas todos os que se mobilizaram e cercaram o palácio do governo amazonense no último mês de dezembro? Seguramente, não. Mas, em última análise, as pessoas foram arrastadas pelo programa e o grito de guerra dos neofascistas que, desde Brasília, movem as suas peças no tabuleiro de xadrez da luta política.
O fato é: Manaus sufoca. O governo municipal (o que saiu e o que entrou) é responsável. O governador, idem. Agora, é preciso hierarquizar responsabilidades. Nesse sentido, o bolsonarismo é o fator mais decisivo na criação de um quadro social em que se morre sem oxigênio.
Mourão declara que não tinha como prever o que ia acontecer em Manaus. Além disso, defende a "tese" de que não é possível "disciplinar" o povo brasileiro. Ora, o governo não só previu o que podia acontecer como aplicou uma linha na qual o genocídio era o ponto de chegada. Nessa perspectiva, os genocidas da capital federal disciplinaram um setor de massas apto a assegurar o triunfo dessa linha.
Logo, a variante do vírus - que é apontada como a causa principal desse novo estágio da mortandade no Amazonas - tem responsabilidade no aumento letal de casos da Covid-19, em Manaus, provavelmente, mas a câmara de asfixia só se explica por uma presença recorrente: a do neofascismo e a sua política de morte.
A LUTA POLÍTICA CONTRA A NECROPOLÍTICA FASCISTA
Ao longo da história, o fascismo se caracteriza como aparelho mobilizador, assentado na provocação, no desespero e na violência. Além disso, transforma a contrainformação em uma norma pétrea de suas técnicas e práticas.
Não por acaso, Bolsonaro diz que fez a sua parte. Sem dúvida que sim. O qual era a sua parte? A difusão de ordens do dia no sentido de desenvolver a necropolítica. A resultante mais trágica trafica, agora, pelas casas, hospitais e ruas amazonenses. O fascismo, como corrente histórica, sempre viu a morte como "encenação", "estética" e "performance". Por isso, a pandemia é só uma "gripezinha" e, ao fim e ao cabo, todos iremos morrer.
O certo é que não há como conter a "performance da morte" sem derrotar o fascismo, independentemente da sua cepa. A luta pelo Fora Bolsonaro precisa voltar ao centro da luta política. Pode-se discutir a forma pela qual se deve defenestrar esse governo. O que não deve ser discutido é o seu conteúdo. Se isso parece extremo ou duro, pensemos, antes disso, no extremo e no duro que é a morte sob a regência de um governo em que a bússola do fascismo afia e aponta a sua agulha no rumo do norte da morte.
Na guerra civil em curso, ora latente, ora aberta, só a luta popular será capaz de deter a avalanche bolsonarista e, desse modo, remover a sua política genocida. É sob a bandeira do Fora Bolsonaro que se pode unir e mobilizar as forças sociais capazes de apontar uma nova direção a um país que não para de enterrar os seus mortos.
Fábio José de Queiroz
Professor da URCA - Universidade Regional do Cariri