China e Brasil, sucesso e fracasso
O que diferencia o sucesso da industrialização chinesa da cada vez mais fracassada industrialização brasileira? Há múltiplos fatores. Porém, foi fundamental a relação com o capital estrangeiro.
No Brasil a instalação das empresas multinacionais seguiu um modelo subjugado. As empresas obtiveram vantagens imensas: a) benefícios tributários; b) crédito público de baixo custo; c) matérias-primas por preços subsidiados; d) infraestrutura barata ou gratuita; e) permissão de enviar lucros ao exterior sem tributação; f) posse absoluta do mercado consumidor interno; e, mais importante, g) tiveram acesso a mão de obra barata.
Usufruíram do mercado por décadas. Fomentaram projetos autoritários, como o da Ditadura. Foram ajudadas na perseguição aos sindicatos. Usaram o país como plataforma de exportações baratas. Cobraram preços mais altos do consumidor interno. E estão indo embora. Em cada vez mais casos, saem do Brasil sem quase deixar rastros da sua passagem por aqui, deixando só um mercado desarticulado em seu lugar. Seremos importadores de seus produtos, como outrora fomos exportadores.
Quase nada restou. Nem tecnologia, nem mercado, nem conhecimento.
Na China houve uma diferença essencial, a lei de “joint ventures” para a instalação de empresas estrangeiras. Segundo David I. Salem (autor de “The Joint Venture Law of the Peoples’ Republic of China: Business and Legal Perspectives”) esse foi o fundamento do sucesso industrial chinês.
As empresas estrangeiras tiveram que se associar em parcerias com as empresas chinesas. Parte substancial dos seus lucros deveriam ser reinvestidos localmente. Deveria haver transferência de tecnologia.
Os chineses, com sua longa experiência histórica, souberam negociar.
No Brasil tivemos os interesses pequenos e mesquinhos de governantes e ditadores e seus ganhos pessoais.
Fábio Sobral
Professor do curso de economia na Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade (FEAAC) da Universidade Federal do Ceará (UFC)