Karl
Heinrich Marx, um pensador do século XIX, ainda nos inquieta.
As inquietações diante dele são de admiração e de horror. Há os que não
suportam seu nome e suas ideias. Há os que se espantam diante da atualidade de
seus pensamentos.
É extraordinário confrontar toda uma época histórica: o capitalismo. E foi isso
que Marx fez. Mostrou a exploração e a violência implícitas a este sistema.
Tornou-se a voz dos esmagados pelo domínio de impérios. O investigador que
dissecou as entranhas do funcionamento do capital.
Descobriu que a forma de roubar o excedente de riqueza produzido pelos seres
humanos mudou ao longo da História. A princípio, senhores da guerra ameaçaram
camponeses e artesãos e obtiveram seu sustento. Foram sucedidos por sacerdotes
antigos e sua dominação mais sofisticada. Posteriormente, surgiram faraós, reis
e sátrapas. Nasceram impérios que caçavam seres humanos e os escravizaram, tais
como Roma antiga. Roma é substituída na Europa por senhores de feudos e seus
soldados. Dias de trabalho e partes significativas do que era produzido
sustentava dominadores cruéis.
Tudo foi substituído pelo capitalismo, sistema que engoliu o mundo inteiro e
todos os povos. Eis a mais sofisticada das formas de dominação. Paguem
salários. Calculem os salários pelo necessário à sobrevivência. Substituam a
dominação das armas pela dominação econômica. Faça-os acreditar que suas
necessidades são fruto de incompetência pessoal. Culpem-nos de não serem
produtivos o suficiente, por isso ganham mal. Acusem-nos de não pouparem e por
isso sofrerem com carências. Estigmatizem as suas dores, suas incapacidades e
suas faltas de mérito.
Marx ouviu essas dores e demonstrou que o capital ganha o excedente calculando
pagar aos trabalhadores a quantidade necessária para sobreviverem, sendo o
restante da riqueza apropriado pelos capitalistas. Mostrou ainda que esse
capitalismo é somente mais uma das formas de exploração de uns poucos seres
humanos sobre a maioria dos outros. Pôs o capitalismo no mesmo patamar de senhores
da guerra, escravocratas e senhores feudais. Chamou a isso de pré-história
humana. A verdadeira humanidade ainda não surgiu. Ainda vivemos no mundo da
violência e da exploração.
Marx disse que o capitalismo, apesar de avanços em relação aos demais sistemas,
é mais uma forma de produção de miséria para a maioria e de riqueza para uma
minoria. Fórmula que identifica todos os sistemas de exploração humana.
Eis o pecado mortal de Marx aos olhos dos asseclas deste sistema. Estes se
acham superiores e sofisticados. Mas não estão muito acima de senhores romanos
brutais e sanguinários.
Ao identificar que o capitalismo é somente mais uma forma violenta; ao dissecar
o seu funcionamento; ao expor o sofrimento humano em diversos períodos de sua
existência; ao gritar que é preciso construir uma forma de vida pacífica e
colaborativa, em que a humanidade não se veja como inimiga, mas como irmã, Marx
se tornou maldito aos olhos dos senhores da riqueza.
Odiado e difamado, Marx segue estudado, debatido, pensado. Suas ideias ainda
acalentam o sonho da verdadeira autonomia humana. Suas palavras ecoam pelos
séculos a ordem da liberdade. Liberdade contra os capitalistas e suas
corporações, contra o Estado que é filho do capitalismo, apesar do que dizem os
defensores da "livre iniciativa", coisa que nunca houve. A riqueza do
capital foi erguida com exércitos e seus massacres de povos dominados, por
dívidas públicas, por legislações sanguinárias, pelo roubo de terras (grilagem)
de camponeses em todos os países capitalistas.
Marx vive, pois vivem ainda os gemidos dos explorados!
Fábio Maia Sobral
Professor de Economia da Universidade Federal do Ceará - UFC
Manifesto Comunista, escrito por Marx e Engels em 1848, impresso em Tamil, falada pelos tâmeis, da Índia meridional e do Norte e Oeste do Ceilão (Sri Lanka)