A vitória eleitoral contra o bolsonarismo representou uma derrota parcial da tendência de fascistização do regime político, da recolonização do Brasil e do processo de aprofundamento das desigualdades sociais.
No entanto, isso foi só o primeiro passo.
A tentativa golpista de criar um caos em 8 de janeiro e a oposição da oligarquia financeira às tímidas propostas de reforma revelam que o governo Lula sofre a possibilidade de cerco e derrubada.
Para evitar a possiblidade de golpe, o governo Lula deve tomar a iniciativa de fortalecer uma base social para garantir reformas estruturais no sentido de retirar o Brasil do atraso e fortalecer o protagonismo de um projeto socialista para nosso país.
Um governo eleito contra uma coalização reacionária, como no Brasil, precisa tomar medidas imediatas para deter o golpismo, consolidar um amplo apoio de massas e desestruturar as bases sociais do bolsonarismo e da oposição burguesa de direita. As mudanças exigidas precisam de um conjunto de forças sociais que participem do processo de reformas estruturais, recebendo seus benefícios e, portanto, com disposição de defender esse processo e seus resultados.
Todo processo de mudanças radicais começa com fatos que criam condições históricas novas, gerando interesses a favor de novas conquistas e disposição para defender o aprofundamento das transformações diante de resistências reacionárias. Pode-se dar o exemplo da Revolução Socialista Russa de 1917. A ação dos camponeses destruiu a propriedade latifundiária e qualquer tentativa de retorno à situação anterior implicava no enfrentamento com milhões de trabalhadores dispostos a defender suas conquistas.
Essa lição histórica é importante porque muitos governos reformistas ou de esquerda recuam de mudanças necessárias, procurando se sustentar fazendo concessões às classes dominantes e pedindo paciência para as bases. Tal postura desmoraliza o movimento que levou à eleição desses governos, levando-o à desmobilização e ao afastamento dos trabalhadores e setores populares, que não tem nada a defender.
Então nesses primeiros seis meses de governo Lula são necessárias medidas econômicas e políticas para enfrentar problemas essenciais para a maioria dos brasileiros como: questão agrária, desemprego, miséria, fome, falta de saúde e educação pública, baixos salários, transporte, moradia, inúmeras formas de opressão social entre outras mazelas.
Por isso, também é importante uma ampla mobilização por reformas. As direções sindicais, populares e a intelectualidade democrática têm uma responsabilidade imensa nesse processo.
O tempo urge.
Frederico Costa
Professor da Universidade Estadual do Ceará – UECE e coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário – IMO