Marx é mais atual do que nunca
GPOSSHE - IMO/UECE
dezembro 25, 2023
No ocaso de 2023, não há como negar a profunda crise que atinge o mundo. As contradições surgem e crescem diariamente. Guerras, desemprego, genocídio, repressão, crimes ambientais, mas também, resistência e mobilizações populares. Desespero, frustrações coletivas, alienação combinam-se com esperanças e projetos de mudança. Em proporção assustadora, a situação atual exige mudanças profundas.
A barbárie avança sobre as mais diversas formas para manter privilégios e estruturas de dominação. A guerra por procuração dos EUA/OTAN/Ucrânia contra a Rússia, o genocídio do Estado colonial de Israel contra o povo palestino e os recentes ataques do governo fascista de Javier Milei contra a classe trabalhadora argentina indicam uma tendência do capital financeiro internacional (sistema imperialista) para superar a profunda crise capitalista. Isso mostra uma ruptura radical com todo um período histórico, que estava estabelecido desde 1945, e, também, uma ofensiva internacional sem precedentes contra direitos trabalhistas, conquistas democráticas, soberania das nações oprimidas e autodeterminação dos povos.
A tarefa urgente de nosso tempo é a defesa da existência das organizações de classe dos explorados e oprimidos, em qualquer lugar no mundo. Tal exigência é inseparável da luta ideológica contra inúmeras formas de consciência que são cúmplices na manutenção da exploração capitalista existente. Nesse sentido, não é possível deixar de afirmar a importância do marxismo para a luta emancipatória e socialista.
***
As classes dominantes e seus intelectuais não medem esforços para produzir erros de interpretação e deturpações das formas de consciência e teorias produzidas pelos explorados e oprimidos. Que melhor exemplo do que o movimento nascido em torno de Jesus de Nazaré que, de expressão de resistência, foi transmutado em ideologia oficial do Império Romano. Imagine o que ocorre com um pensamento radicalmente anticapitalista.
Referências a Marx e ao marxismo são constantes na mídia e nas redes sociais. Políticos, jornalistas, cientistas sociais, religiosos, filósofos e palpiteiros de plantão sempre têm algo a dizer sobre os problemas e contradições do marxismo, no entanto, na grande maioria dos casos, parece que não se leu uma linha escrita, pelo menos por Marx, ou se satisfazem com o mínimo de conhecimento sobre a obra de um dos mortos mais perigosos do mundo para o mundo capitalista.
***
Diferentemente dos pensadores de seu tempo, que buscavam apenas entender o mundo, Marx conformou-se como um homem de ação. Aos vinte e sete anos, afirmou: “Os filósofos não têm feito mais do que interpretar o mundo de diversas maneiras, o que importa é transformá-lo”. Isso demarcou a natureza de seus escritos como meios de ação para a luta revolucionária dos trabalhadores contra o capitalismo e a dominação burguesa. Nessa perspectiva, o conhecimento científico da realidade não acabava em si mesmo, mas estava a serviço da radical mudança da sociedade. Nas condições históricas da sociedade moderna, o conhecimento deve ser um instrumento das forças de emancipação social em luta contra as estruturas exploradoras e opressivas.
A vida de Marx, nos âmbitos público e privado, intelectual e político, torna-se incompreensível fora do contexto do movimento operário e das contradições do capitalismo. Marx iniciou a resposta mais radical à sociedade burguesa, indicando sua historicidade, lógica de funcionamento e possiblidades de superação.
Marx não descobriu a luta de classes. Antes dele, historiadores como Thierry, Guizot e Mignet já tinham estudado os conflitos entre burguesia e nobreza. Marx, no entanto, acrescentou que essa luta prosseguia, agora entre trabalhadores assalariados e seus patrões capitalistas.
Entendendo isso, participou, desde a juventude até o fim de sua vida, na organização e desenvolvimento de projetos revolucionários e classistas, chegando a ser o dirigente mais importante da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), entre 1864 e 1872.
Dirigiu o principal periódico da Alemanha durante a Revolução de 1848; durante a Comuna de Paris de 1871, mobilizou as forças da AIT em solidariedade incondicional aos "comunards".
Como atualmente o mundo passa por uma onda de guerras fomentadas pelo capital financeiro, é importante lembrar que Marx, em parceria com Engels, sempre buscou compreender os conflitos militares de seu tempo para elaborar uma estratégia de intervenção do proletariado em relação a eles. Exemplo disso são seus escritos sobre a Guerra da Criméia (1853-1856), a Guerra da Itália (1859), a Guerra Civil dos Estados Unidos (1861—1865), a intervenção francesa no México (1862-1867), o conflito franco-alemão (1870-1871) e a Guerra Russo-Turca (1877-1878). Noutras palavras, Marx tomava posição no sentido de construir situações progressivas para a luta de classes do proletariado; nunca ficou em cima do muro.
O que não deve ser esquecido é que as obras de Marx, inclusive "O capital", estão organicamente vinculadas, tanto teoricamente como na prática social, às crises, às guerras e às revoluções das quais acompanhou ou participou a partir da perspectiva do proletariado. De fato, por seu caráter histórico, a obra de Marx será sempre inacabada. Daí seu constante enriquecimento pela luta dos explorados e pelos intelectuais orgânicos ligados ao movimento operário. A atualidade da obra de Marx, não é nada mais do que a atualidade da revolução socialista, pois o capitalismo revela-se, cada vez mais, incapaz de desenvolver as capacidades humanas.
2024 será um ano de muitas lutas. Venceremos!
Frederico Costa
Professor da Universidade Estadual do Ceará- UECE e coordenador do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário - IMO.