“Não estamos olhando para trás para desenterrar evidências de um crime passado, pois a NAKBA é um presente prolongado que promete continuar no futuro.”
Mahmoud Darwish, 2001.
Por ocasião dos seus 76 anos, a NAKBA – palavra árabe que significa catástrofe – permanece para o povo palestino como o reflexo de uma profunda injustiça; uma agressão à sua condição humana e uma contínua usurpação de seu direito inalienável à liberdade e à autodeterminação – consequência do colonialismo sionista de assentamento de Israel.
A NAKBA palestina, iniciada em 1948, foi definida pela ONG Al Mizan como a expulsão forçada de mais de 700.000 pessoas (80% da população à época) e pelo assassinato de, aproximadamente, 15.000 pessoas, resultado de mais de 70 massacres pelas milícias sionistas durante o período de 1947-49, a de população de 50% das aldeias e centros urbanos, muitos destruídos com o propósito de impedir o retorno das pessoas que nelas habitavam, parte integrante de um processo planejado de limpeza étnica.
A NAKBA resultou na fragmentação e na dispersão do povo palestino, metade do qual encontra-se hoje em condição de refugiados e de exílio; seu direito ao retorno, consagrado pela Resolução da Assembleia Geral da ONU no. 194 (dezembro de 1948), tem sido frontalmente negado por Israel ao passo que este direito é concedido a toda pessoa judia, em qualquer parte do mundo, de residir em toda a palestina histórica. Com isso, a ONG israelense B´Tselem denominou Israel de um “estado de supremacia judaica do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo”. A outra metade do povo palestino vive sob uma ocupação militar e um colonialismo de assentamento racista segundo a Anistia Internacional, que em 2022, considerou Israel como um regime de apartheid.
O genocídio que, hoje, testemunhamos em Gaza, reflexo da NAKBA permanente, é uma extensão do projeto colonial de Israel. De outubro de 2023 até o final de abril de 2024, duas milhões de pessoas (ou 80% da população da Faixa de Gaza) foram expulsas de suas casas e correm o risco iminente de limpeza étnica. 70% das construções – incluindo casas, hospitais, mesquitas, igrejas, escolas e todas as 12 universidades – foram bombardeados e destruídos com a clara intenção de tornar Gaza inabitável. Mais de 40.000 pessoas foram mortas; entre elas, 70% crianças e mulheres; 19.000 crianças se tornaram órfãs; mais de 1.000 crianças estão com uma ou duas partes do corpo amputadas e dezenas de milhares de famílias foram riscadas do registro civil.
Para os sobreviventes a situação é catastrófica; segundo a ONU, “o bombardeio direto de hospitais e a negação deliberada do acesso a instalações de saúde por franco-atiradores israelenses, combinados com a falta de camas e recursos médicos, colocando cerca de 50.000 mulheres palestinas grávidas e 20.000 recém-nascidos em risco inimaginável. Mais de 183 mulheres por dia estão dando à luz sem anestesia, enquanto centenas de bebês morreram por falta de eletricidade para alimentar as incubadoras. As terríveis condições resultaram em aumento de abortos espontâneos em até 300%. 95% das mulheres grávidas e lactantes enfrentam pobreza alimentar severa”. Além disso, mais de 10.000 homens foram sequestrados e encarcerados em prisões israelenses sob tortura e negligência médica. A ONU documentou casos de abuso e relatos de agressão sexual e violência contra mulheres e meninas, inclusive contra as detidas pelas forças de ocupação israelenses.
Hoje, em Gaza, outra NAKBA está em curso, desta vez sendo transmitida, diretamente, por jornalistas palestinos que têm sido atacados (mais de 120 mortos), pois buscam denunciar e divulgar de forma heroica os crimes cometidos contra seu povo e, assim, se contraporem à narrativa do Estado de Israel que busca o apagamento e o memoricídio da NAKBA permanente contra os palestinos.
A resistência e o Sumud (a persistência) da população de Gaza frente à barbárie vivida, diariamente, há mais de 7 meses, têm mobilizado uma onda global de protestos, incluindo as manifestações em massa de estudantes contrários ao genocídio e ao apoio militar a Israel. Tais manifestações, igualmente, têm exigido a implementação das propostas da política de BDS - Boicote, Desinvestimento e Sanções – contra Israel de modo a inviabilizar a continuação do regime colonial e de apartheid.
Há outros acontecimentos e novos fatos que também foram desencadeados e que sinalizam mudanças importantes: o surgimento de uma solidariedade continental em defesa da autodeterminação do povo palestino; o processo na CIJ apresentado pela África do Sul acusando Israel de prática de genocídio em Gaza (apoiado por um número crescente de países); uma incipiente mudança de narrativa a favor da Palestina e um acirramento de disputas políticas, inclusive nas eleições de países do ocidente, no qual aumenta o questionamento ao apoio incondicional a Israel.
Ao mesmo tempo em que manifestamos nossa indignação diante do genocídio em curso em Gaza, devemos lembrar as lúcidas palavras de Angela Davis: “a esperança é um ato político”.
Finalmente, orientemo-nos pela coragem e resistência do povo palestino em Gaza e nos territórios ocupados, fortalecendo nosso compromisso em defesa do direito dos povos à autodeterminação e à liberdade!
Reafirmemos nosso compromisso de aderir ao apelo palestino de BDS, tendo como exemplo a antiga situação da África do Sul.
Acabar com o colonialismo e o apartheid de Israel são as únicas garantias para o fim do genocídio e contra a perpetuação da NAKBA!
Toda a força e solidariedade à luta do povo palestino pela liberdade e pela autodeterminação!
15 de maio de 2024