domingo, 2 de junho de 2024

ELEMENTOS SOBRE NEOLIBERALISMO, CAPITALISMO E BARBÁRIE




É comum estudantes perguntarem sobre o neoliberalismo e como ele influencia o cotidiano de nossas vidas. Por isso, produzi este texto, partindo de minhas leituras, indagações e reflexões. 

******

Frederico Costa, professor da Universidade Estadual do Ceará - UECE


   O neoliberalismo, conceito em voga para indicar as coordenadas atuais do capitalismo, implica em várias dimensões e características, como, por exemplo: 

1) o neoliberalismo pode ser associado ao projeto de direita contra trabalhadores e pobres imposto por diversos governos, que teve como marco temporal a ditadura de Pinochet no Chile, seguido por Margaret Thatcher no Reino Unido, Ronald Reagan nos Estados Unidos e em muitos outros países; 

2) o neoliberalismo pode ser entendido como um conjunto de políticas públicas e orientações governamentais inspiradas no denominado “Consenso de Washington”, com o objetivo de “reduzir o Estado” e “abrir mercados”, causando redução de direitos e danos catastróficos para os pobres; 

3) o neoliberalismo pode ser apreendido como um bloco ideológico, mais ou menos coerente, de ideias e práticas associadas a intelectuais conservadores e monetaristas, em particular, Friedrich von Hayek, Ludwig von Mises, Milton Friedman e a frente intelectual articulada pela Sociedade Monte Pèlerin, além de uma variada gama de instituições como think tanks, organizações não governamentais, departamentos universitários, grupos internacionais, lobbies e meios de comunicação; 

4) o neoliberalismo pode ser classificado como a estruturação de uma subjetividade adequada à nova conformação das relações de produção capitalistas centradas no empreendedorismo e na responsabilização maior dos indivíduos, o que vem trazendo um crescimento exponencial de sofrimento psíquico para as classes trabalhadoras;

5) o neoliberalismo pode ser identificado como a forma contemporânea do modo de produção capitalista que se destaca pela financeirização da produção, pelo acirramento das contradições do sistema imperialista e pela subordinação maior do processo de reprodução social à lógica das novas tendências de acumulação do capital.

   É óbvio que, uma dessas determinações não exclui as outras, pois, o que identificamos como neoliberalismo é uma totalidade concreta multidimensional. O neoliberalismo engloba estruturas econômicas, formas do processo produtivo e alocação de recursos, relações entre países imperialistas e nações oprimidas, regimes políticos cada vez mais autoritários, relações de força entre classes sociais, tipos de exploração e dominação social, instituições, ideologias, arquiteturas subjetivas e maneiras de comportamentos dominantes.

   O que não se pode esquecer é do núcleo ao redor do qual giram as engrenagens da totalidade neoliberal: exigências crescentes de lucratividade, força motriz da acumulação do capital, que se sustenta, em última instância, sobre a extração do mais-valor produzido pela força de trabalho assalariada. Por isso, o questionamento e ataques constantes ao valor e aos direitos sociais da força de trabalho assalariada por empresários, governos e ideólogos neoliberais. A roda da acumulação deve continuar girando e o combustível é o trabalho não pago que precisa ser ampliado mais e mais.

   De fato, o neoliberalismo é uma das faces do avanço da barbárie. A hegemonia do neoliberalismo indica que o capitalismo está levando cada vez mais a humanidade para níveis maiores de barbárie: as forças produtivas estão se transformando em forças destrutivas. Alguma dúvida sobre isso?