sexta-feira, 21 de junho de 2024

O problema da totalidade em Lukács: seu caminho metodológico I

 



Antonio Marcondes Pós-doutor em Educação GPOSSHE-UECE

 

  Em História e consciência de classe e a Ontologia do ser social de György Lukács (1885-1971), a categoria da totalidade assume uma posição metodológica central enquanto um princípio constitutivo do método dialético de Marx. Contudo, o filósofo marxista húngaro realiza uma passagem progressiva, no que diz respeito, a fundamentação teórico-metodológica dessa categoria de uma obra para outra. 

  Em História e consciência de classe, a categoria da totalidade comporta uma dupla determinação metodológica, no sentido de que ela assume um fundamento lógico-ontológico, abstrato-concreta tendo como momento predominante o sujeito cognoscente (no caso o proletariado sujeito-objeto idêntico da realidade, portanto, um produto do pensamento; um ponto de vista) marcado por uma forte influência hegeliana. Essa é a nossa justificativa teórica para tentar explicar essa dupla determinação da categoria da totalidade no livro de 1923. Lukács não havia se apropriado criticamente de Hegel de forma profunda para superá-lo (conservando) e avançar continuamente numa fundamentação adequada do método dialético de Marx, ou seja, em seu fundamento ontológico, materialista.

  Nesse sentido, quando Lukács na Ontologia concebe a totalidade enquanto uma categoria ontológica, uma determinação do mundo objetivo histórico-social, e não mais como uma determinação do sujeito cognoscente (o proletariado sujeito-objeto idêntico da realidade histórico-concreta) em sua dupla determinação metodológica com uma forte inclinação idealista, ou seja, uma representação mental lógico-ontológica, ele de fato avança progressivamente rumo a sua obra derradeira, para explicitar plenamente a categoria da totalidade em bases ontológicas, materialistas. Portanto, é somente na Ontologia que se consolida plenamente a superação crítica do caráter duplamente determinado de fundamento lógico-ontológico e de preponderância subjetivada da categoria da totalidade em História e consciência de classe. Desse modo, o ponto determinante para demarcar a passagem progressiva da categoria da totalidade a partir de História e consciência de classe rumo a Ontologia do ser social, é a questão do adequado tratamento metodológico da categoria da totalidade, ou seja, um avanço progressivo de uma totalidade lógico-ontológica para uma totalidade propriamente ontológica, objetiva, material.