segunda-feira, 10 de junho de 2024

Rodolfo Teófilo: um legado literário, político e social no Ceará




Élcio Cavalcante, Professor de História


  Rodolfo Marcos Teófilo foi um farmacêutico, jornalista, contista, articulista e escritor brasileiro, nascido em Salvador – Bahia, em 06 de maio de 1853 e faleceu em Fortaleza – Ceará, em 02 de julho de 1932, deixando um legado significativo para a literatura e a história do Ceará, além de sua atuação como médico sanitarista, vacinando a população fortalezense e erradicando a varíola por nossas terras alencarinas. Rodolfo Teófilo foi membro da Academia Cearense de Letras e escreveu obras que abordam temas históricos e culturais do Ceará. Suas obras mais conhecida são a “História da Seca no Ceará”, “A Fome”, “Os Brilhantes”, “Paroara”, “Lyra Rústica”, “A Sedição de Joazeiro”, “Seca de 1915”, “A Seca de 1919”, “Varíola e vacinação no Ceará”, “O Caixeiro”, entre outros livros, na qual ele descreveu e analisou as consequências das secas no Nordeste brasileiro.

      Rodolfo Marcos Teófilo foi um importante jornalista e escritor cearense, apesar de ter nascido na Bahia, com um mês e meio de vida seus pais mudam-se para Fortaleza. Cedo ficou órfão, sua Mãe falece quando ele tinha apenas quatro anos, levando o seu Pai a casa-se com a cunhada, tendo mais três filhos. Quando tinha apenas nove anos, a epidemia de "Cólera Morbus" propaga-se pela capital cearense, ficando todos enfermos em sua casa, exceto Rodolfo Teófilo. Por ser o único que se manteve saudável, tornou-se responsável em manter a casa. O drama familiar continua quando aos onze anos perde seu Pai, não deixando recursos financeiros para Rodolfo Teófilo e familiares, forçando-o a trabalhar como caixeiro para o próprio sustento e de sua madrasta e irmãos.

     Uma das características da sua obra literária é o Naturalismo e o Regionalismo mostrando os flagelados da seca no Nordeste, tendo como marca as consequências da seca e da fome na vida do nordestino do sertão e do êxodo para o litoral, através de seus escritos denunciou os impactos desse problema social e político em jornais da capital cearense e também combateu os desmandos e as arbitrariedades de poderosos da época, teve vários embates ideológicos com vários políticos oligarcas, principalmente com o Presidente da Província do Ceará, Antônio Pinto Nogueira Acioli, relatou em seus artigos periódicos, temas relacionados à saúde pública, cultura, história e sociedade do Ceará. Sua atuação na área da saúde e sua participação na vida social e política local também são aspectos relevantes de sua vida.

   Em meados de 1900, até o final de sua vida empreendeu uma batalha pessoal sem recursos contra a varíola, lutando contra o “medo da vacina”, em tempo de seca feroz, fome generalizada, migração em massa, péssimas condições de higiene. Sem apoio do poder público, enfrentou praticamente sozinho, em duas oportunidades, epidemias de varíola que vitimaram milhares de pessoas em Fortaleza e no interior do Ceará, no final do século XIX e início do século XX. Em reconhecimento a esta empreitada hercúlea, merecidamente a este grande ser humano, o Centro Acadêmico de Farmácia da Universidade Federal do Ceará tem o seu nome como homenageado.

     Destarte, Rodolfo Teófilo foi um dos percursores da literatura regional – naturalista brasileira, contribuindo significativamente para a literatura e a história do Ceará. Além disso, foi um dos fundadores de uma agremiação literária chamada de Padaria Espiritual, movimento literário e artísticos criada em Fortaleza, em 1892, cuja característica era o comportamento irreverente de seus membros, antecipando o movimento do Modernismo no Brasil. Não podemos nos esquecer que Rodolfo Teófilo aderiu à causa abolicionista, participando ativamente da campanha abolicionista no Ceará, primeira província brasileira a declarar livres os seus escravos.

    Além de toda a genialidade farmacêutica, inventando uma vacina para combater a varíola, salvando milhares de vidas da doença, Rodolfo Teófilo foi o inventor da deliciosa Cajuína, segundo a escritora cearense Rachel de Queiroz, a "invenção" dessa bebida não – alcoólica é popular no nordeste brasileiro, principalmente nos estados do Piauí, Maranhão e Ceará, esse feito fez com que o boticário – escritor – sanitarista ganhasse a Medalha de Ouro numa exposição nacional do Rio de Janeiro pela sua criação e produção da bebida cajuína, saborosa e de excelente qualidade.

    Finalizando, a marca do autor é a criatividade literária, pois a sua obra, especialmente “A Fome”, revela não apenas sua habilidade literária, mas também seu comprometimento político em combater as injustiças sociais, em retratar aspectos fundamentais da realidade social e ambiental da região nordestina. Sua atuação como farmacêutico demonstra o alcance de sua influência e contribuição para além do campo das letras. Rodolfo Teófilo deixou um legado marcante e é lembrado como um dos grandes intelectuais cearenses do final do Século XIX e início do Século XX. Viva Rodolfo Teófilo