Por Antonio Marcondes, Pós-Doutor em Educação - GPOSSHE-UECE
Com efeito, o proletariado enquanto sujeito-objeto idêntico da autêntica história humana não é, absolutamente, “uma realização materialista” que sobrepuja as “construções do pensamento idealista”, do contrário, isso é muito mais “um hegelianismo exacerbado”, que tinha a intenção de transpor objetivamente o “próprio mestre”, colocando-se, audaciosamente, acima de toda realidade. Como vai dizer Mészáros (2011), Lukács estava sendo mais hegeliano do que Hegel. Como em Hegel, Lukács em História e consciência de classe identificava “alienação” com “objetivação”. Por isso mesmo, o sujeito-objeto idêntico ao superar a alienação, acaba também por superar a objetivação. O problema é que como para Hegel o objeto, a coisa, só existem enquanto “exteriorização da consciência de si”, a “retomada da exteriorização” no sujeito constituiria o fim da realidade objetiva como um todo. Essa “exageração hegeliana” de Lukács no livro de 1923 é corrigida na Ontologia quando ele fundamenta de forma plenamente materialista o fato de que as categorias constitutivas do ser social são determinações do mundo objetivo, portanto, não é a consciência que determina a realidade, mas, a realidade, o mundo objetivo é que determina a consciência do ser social.
Lukács no esforço de situar criticamente os problemas teórico-metodológicos presentes em História e consciência de classe, reconhece de fato os equívocos intrínsecos deste livro, no entanto, o filósofo marxista húngaro também reconhece que algumas categorias como a mediação e a totalidade, por exemplo, já eram demonstradas em sua “objetividade” e “movimentos ontológicos efetivos”, o que certamente, representa um ponto de partida em direção a uma autêntica “ontologia marxista do ser social”. Assim: “A categoria de mediação como alavanca metódica para a superação do simples imediatismo da experiência não é, portanto, introduzir algo de fora (subjetivamente) nos objetos [...]”, do mesmo modo, esse reconhecimento, no nosso entendimento, vale para a categoria da totalidade, no sentido de que ela constitui uma posição metodológica central do método dialético de Marx e que por isso mesmo, já se configura uma determinação (ainda que duplamente determinada) ontológica quando Lukács se refere a ela enquanto uma totalidade concreta, ou seja, uma categoria que reflete os antagonismos internos da sociedade capitalista, em suas sucessões e interconexões, onde os fatos sociais só ganham sentido quando referidos ao todo enquanto elementos do devir histórico.