quarta-feira, 21 de agosto de 2024

"Dia dos Pais", Feuerbach e machismo: reflexão sobre criador e criatura

agosto 21, 2024

Der deutsche Philosoph Ludwig Feuerbach (1804-1872)

(Imagem / Danita Delimont)



Frederico costa, professor da UECE e coordenador do IMO


 

Na preleção do "Dia dos Pais", ouvi a seguinte afirmação do pastor: "Deus nos ama tanto que deu seu título de pai aos homens". Noutras palavras, o criador, que sempre existiu, sempre foi pai. E, ao criar a humanidade deu esse título a uma parcela de suas criaturas: os homens, indicados como "cabeças da família".


Partindo dessa afirmação machista, farei uma breve análise filosófica sobre a natureza humana do fenômeno religioso. 



Para isso, utilizarei o filósofo alemão Ludwig Feuerbach (1804-1872), filho de missionários cristãos, que realizou uma crítica radical da religião. O cerne de sua crítica, bem atual, foi desenvolvida no livro A essência do cristianismo, sobretudo no seu capítulo I, A essência do homem. O que vale para todas as estruturas religiosas, sejam monoteístas ou politeístas.


Eis o que nos diz Feuerbach.


Deus não existe em si nem por si mesmo, ou seja, como sujeito. Pois, de fato, Deus é um objeto que, em essência, é um predicado humano.  Os seres humanos se objetivam nesse objeto o qual, é ele mesmo: essência humana objetivada. No entanto, os seres humanos, em seu cotidiano, não possuem a consciência de que o objeto da religião - Deus - é um produto seu. E mais, os seres humanos não se reconhecem nele. Portanto, essa relação sujeito (seres humanos) e objeto (Deus) assume uma forma de alienação: a alienação religiosa. Nesse sentido, Feuerbach encontra em Deus a consciência de si mesmo dos seres humanos. 


A alienação religiosa, em última instância, traz consequências negativas para os seres humanos. Além de ser algo estranho, Deus não é reconhecido como um produto humano. E mais, os seres humanos se empobrecem diante de sua criatura (Deus), que se enriquece com as perfeições projetadas nele.


Na alienação religiosa, que ocorre na consciência, se cumpre a característica de toda alienação: 1) o sujeito ativo cria o objeto; 2) o objeto é um produto seu, porém, o sujeito ativo não se reconhece nele, o objeto é algo estranho; 3) o objeto obtém um poder que, por si, não tem e se volta contra o sujeito, dominando-o, convertendo-o em um predicado seu.


Logo, no discurso religioso há um cancelamento do sujeito humano real. Por exemplo, não é o deus cristão que é pai, e que repassa esse atributo aos homens. O que há, na realidade, é a projeção da família patriarcal numa construção teológica. Deus se torna machista, porque há relações machistas. O que o pastor fez, em sua pregação, foi inverter essa realidade, justificando por meio de uma construção humana metafísica ("Deus Pai"), a miséria da opressão cotidiana das mulheres.


Triste.




segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Sobre a multiplicidade-unidade da matéria: a questão do ser

agosto 19, 2024

Ai Gerado, Astronauta, Espaço, Nasa

                                           Imagem (ttps://pixabay.com)                                                          


                                                           Frederico Costa, professor da UECE e coordenador do IMO


Se olharmos para o mundo ao nosso redor é possível perceber a diversidade de objetos e processos: ínfimas partículas, buracos negros, matéria escura, galáxias, sistemas estelares, organismos unicelulares, seres vivos complexos, formações sociais, classes, meios de produção, mercados, nações, cultura. O ser, isto é, tudo o que existe ou tem a possibilidade de existir desdobra-se em três esferas básicas conhecidas: o ser inorgânico, o ser orgânico ou biológico e o ser social. Essas esferas são conexas: o ser inorgânico é o alicerce da vida e os seres humanos são entes naturais-sociais.

Uma pergunta que acompanha as reflexões humanas é se nessa multiplicidade de formas e qualidades há algo comum. Há unidade na diversidade encontrada no Universo?

Já na antiguidade pensadores buscaram encontrar o fundamento originário de todos os fatos e processos da realidade.  Tales de Mileto (624-546 a.C.), considerado o primeiro filósofo, via esse fundamento na água; outros localizavam tal elemento primordial no ar, no fogo ou em algo indefinido. Demócrito de Abdera (360-470 a.C.), discípulo de Leucipo (primeira metade do século V a.C.), desenvolveu a intuição fantástica de considerar que todos os seres são constituídos por diminutas partículas indivisíveis, os átomos. No século XX cientistas descobriram o átomo, a radioatividade e uma gigantesca complexidade estrutural no mundo subatômico e do macrocosmo.

Por muito complexos que sejam e quaisquer que sejam suas propriedades, todos os fatos e fenômenos da realidade são momentos do ser e são, para os seres humanos, objetos para os quais estão dirigidos seus pensamentos e atividade prática. Há, portanto, uma propriedade comum na infinita quantidade de eventos presentes no universo: eles existem, independente de pesarmos neles ou não. Essa característica universal dos processos da realidade é unificada sob o conceito de matéria.

Mas, aqui surge uma pergunta: como saber se esse ou aquele fenômeno existe à margem da consciência, isto é, o que é material?

A resposta é tácita e plenamente verificável: a práxis social é o critério essencial. Marx afirma no Ad Feuerbach(Teses sobre Feuerbach) de 1845:

A questão de saber se o pensamento humano cabe alguma verdade objetiva [...] não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na prática que o homem tem de provar a verdade, isto é, a realidade e o poder, a natureza citerior [...] de seu pensamento. A disputa acerca da realidade ou não-realidade do pensamento – que é isolado da prática – é uma questão puramente escolástica (MARX e ENGELS, p. 533, 2007).

Portanto, a partir da prática histórico-social chega-se à categoria de matéria, que não se restringe a um processo isolado nem a um grupo de fenômenos, mas abarca toda a realidade. Abstraindo-se das particularidades, propriedades e aspectos conhecidos dos eventos, de seus nexos e interrelações concretas, expressa o principal de todos esses processos: a objetividade, ou seja, a existência do ser independente da consciência dos seres humanos. A categoria de matéria não é só uma categoria ontológica, ela, também, é fundamental para a teoria do conhecimento ou gnosiologia. Pois, o dado ontológico da objetividade do mundo, posto pela atividade humana primordial de transformar a natureza para satisfazer suas necessidades sociais, exige a apropriação e compreensão de como funciona a realidade. 

 

Referências

MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). São Paulo: Boitempo, 2007.

 

domingo, 18 de agosto de 2024

A ilusão da esquerda no Nordeste e a ascensão do fascismo em Fortaleza

agosto 18, 2024


Prefeitura de Fortaleza, capital do Ceará  -  (crédito: Divulgação )

Prefeitura de Fortaleza (Reprodução)


Leonardo Lima Ribeiro - Professor da Educação Básica


Esse mito de que o Nordeste em abstrato é de esquerda e salvou o país do fascismo sempre foi uma farsa. Observem as eleições municipais de suas cidades. Aqui em Fortaleza dois canalhas de extrema direita estão na liderança das intenções de voto. "Raspa Cú" e o "Capetão" Wagner. 


Esse é o resultado de as alas "progressistas reformistas" tentarem por anos vender a ideia jurídica e implantarem a prática cínica de que os oprimidos não desejam ser opressores em situações de capitalismo decadente que corrói o tecido social, propondo apenas projetos espúrios de digestão moral da pobreza, que orienta o povo para viver na base da ração. É como se os indivíduos fossem apenas animais de carga reduzidos à alimentação e ao trabalho exploratório. Chamam isso de direito civilizatório moderno capitalista. 


Sem a correta formação e consciência crítica da economia-política o povão sabe que está sendo enganado, e sente na pele como dói ser visto como burro de carga. A esquerda reformista pode falar bem alto que é contra a Vanezuela, visando angariar apoio das alas de direita para se manter viva. Não vai adiantar. 


Justamente por isso a base social refém da mais-valia e tempo de trabalho assalariado ou não migra por ressentimento para decisões práticas suicidárias. Esse é o resultado que tanto a social democracia alemã colheu na época de Weimar, ao perseguir revolucionários comunistas e subestimar a população, quanto estamos colhendo agora no Brasil, com o detalhe de que o fascismo agora vem pra valer. Decadência total.

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Pedagogo e o mestre no mundo clássico

agosto 15, 2024



Carlos Bonfim. Professor-Adjunto de Pedagogia da UECE.


No mundo clássico AEC, o pedagogo (παιδαγωγός/paidagogós) designava uma pessoa com experiência de vida que se responsabilizava diretamente pela educação de um menino dos seis aos dezoito anos, filho de um cidadão; educação realizada conforme os princípios da pedía (Παιδεία/paideía). Contudo, sua tarefa se diferenciava do didaskálos (διδασκάλους), mestre dedicado a ensinar os saberes de seu oficio (τέχνη/techné) aos seus aprendizes, por isso ser chamado didaktiké (διδακτική), mestre do ensino.

 

A tarefa do didaskálos (mestre) não era educar, “forjar um caráter”, mas lecionar saberes acerca de seu ofício aos meninos, ou seja, levá-los a conhecer e a saber tecnicamente a tocar um instrumento, a lutar, a ler, a escrever, a discursar etc. O local em que o mestre trabalhava se chamava didaskaleíon (διδασκαλεῖον), lugar de ensino. 


[Durante a idade média EC, o local de ensino (didaskaleíon) passa a se chamar escola, vocábulo também de origem grega derivada de scholé (σχολή), utilizado no mundo clássico com sentido de tempo livre ou desocupação do trabalho manual, enquanto condição para o cidadão se dedicar aos amigos, aos estudos e aos assuntos do governo da Pólis.]


Quanto ao pedagogo (paidagogós) sua ocupação não era ensinar um oficio (techné), mas em tempo integral forjar um caráter, ou seja, educar (παιδεύω/paideío) física, intelectual, ética e esteticamente o menino sob a sua reponsabilidade. Portanto, a função de educar é mais profunda em relação a de ensinar tecnicamente uma atividade. Apesar disso, o processo de educar abrangia a aprendizagem dos ofícios de ler, escrever, tocar e lutar ensinado pelos didaskálos, com a assistência colada do pedagogo: a aprendizagem da techné pelo menino seria assim o instrumento usado pelo pedagogo a serviço de sua tarefa educativa. Por isso desde tempos remotos da época clássica, dizia-se que o pedagogo exercia a função de educar para toda a vida, e o mestre a de ensinar um ofício em auxílio desse processo. 


Por sua vez, ainda no período clássico, pedagogia (παιδαγωγίας/paidagogías) denotava a educação obtida pelo menino, ou seja, o efeito da aprendizagem de atividades e preceitos, geridos pelo pedagogo, sobre o seu desenvolvimento e comportamento. Em síntese: educação (pedagogia) era o efeito surtido no desenvolvimento do menino (nos aspectos físico, intelectual, ético e estético) oriundo das atividades segundo os preceitos da excelência (αρετή/areté) que ele aprendia por meio da assistência direta de seu pedagogo. 


Mas, desde o século II EC, um novo conceito surge e com ele as tarefas de educar e de ensinar, antes separadas, encontram-se unidas na atividade do pedagogo, agora compreendido enquanto aquele que educa ensinando e ensina educando as pessoas, independentemente de suas faixas etária. Também nessa época observa-se pela primeira vez a palavra pedagogia ser redefinida na forma de um conceito, assumindo a função de um oficio fundamentado em preceitos para regrar as ações, abordando o vínculo entre a educação (παίδευσις/paideusís) e a excelência (ἀρετήν/areté) por objeto, e o exercício da excelência o objetivo principal da educação da pessoa, com os preceitos e ensinamentos conduzidos por um pedagogo. 


[No século XIX EC, contudo, os normalistas fazem uma divisão, sendo o pedagogo um catedrático que faz a crítica e elabora estudos sobre os sistemas de ensino, e a mestra e mestre aqueles que educam crianças e jovens; e somente depois de 2006 no Brasil, educar e ensinar tomam forma no mesmo conceito de pedagogo]. 


sábado, 10 de agosto de 2024

Esporte e relações de opressão no Brasil

agosto 10, 2024


 

   Sou Celi Taffarel professora Dra. UFBA/UFAL/UESC,  primeira mulher a dirigir uma entidade científica na área da Ciência do Esporte no Brasil, o CBCE - Colégio Brasileira de Ciências  do Esporte.


     A discrepância entre o protagonismo das mulheres na conquista de medalhas e os conselhos e federações do esporte brasileiro, dominados  por homens, tem suas determinações imediatas na estrutura esportiva ocupada  predominantemente por homens que limitam, inibem, obstaculizam, a participação  das mulheres na gestão e administração esportiva ,  reproduzindo no âmbito esportivo o que está enraizado na estrutura da sociedade capitalista, patriarcal, machista em que ainda vivemos. 


  As estruturas esportivas brasileiras estão impregnadas de machistas,  conservadores , que não tem interesse nenhum em alterar relações de dominação. 


    O exemplo recente foi o que aconteceu no Ministério do Esporte que era dirigido por uma mulher, a Ministra Ana Mosser, que foi destituída do cargo para beneficiar forças políticas de um homem. 


   A estrutura esportiva reproduz a base material das relações de produção e reprodução da vida, ou seja a opressão , a exploração da mulher.


     O que encontramos no âmbito da ciência, do esporte,  nos poderes executivo, legislativo, judiciário é a predominância  de homens, brancos, conservadores, preconceituosos, machistas.


  A explicação desta discrepância esta na infraestrutura e na superestrutura  capitalista.


   O predomínio dos homens vai desde dirigir o Banco Central até dirigir as entidades esportivas. Isto é  próprio  de uma sociedade patriarcal, conservadora, opressora, exploradora .


   A transformação desta estrutura conservadora , patriarcal, machista, passa pela consciência de classe da situação e , a luta da classe trabalhadora e dentro dela , a luta de gênero e a luta étnico-racial.


 Vivemos na pré-história das relações sociais possíveis à humanidade. 


  Vamos superar este estado de coisas quando formos capazes, enquanto humanidade, de superar a exploração de seres humanos por parte de seres desumanos. 


     E isto exigirá cada vez com mais força, vigor e coragem a luta das mulheres em todos os âmbitos da vida humana porque não nos basta ocupar postos e ganhar medalhas.


  Queremos alterar radicalmente as relações de opressão e exploração.

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Do complexo de inferioridade à autoconfiança: superando o complexo de vira–lata e resgatando a identidade e o orgulho nacional

agosto 09, 2024

Imagem: www.cursoderedacao.net


Élcio Cavalcante, Professor de História


  O termo complexo de vira–lata, expressão popularizada por Nelson Rodrigues, refere–se a um sentimento de inferioridade que muitos latino–americanos e especialmente brasileiros podem experimentar em relação a outras culturas e sociedades. Esse complexo se manifesta na desvalorização do que é nacional e na crença de que o que vem de fora é sempre superior. Superar esse sentimento é essencial para o desenvolvimento pessoal e coletivo do nosso país e da história dos povos da América Latina.

  Em primeiro lugar, a valorização da própria identidade cultural é fundamental. O Brasil assim como todos os países da América Latina são nações ricas em diversidade, com influências indígenas, africanas e europeias que moldaram a sua cultura única, ímpar e profícua. Ao reconhecer e celebrar esse amálgama de diversidade, nós latino–americanos podemos construir uma autoestima coletiva, promovendo um senso de pertencimento e orgulho. A música, a culinária e as tradições autóctones indígenas, africanas, andinas, latinas são exemplos de riquezas que devem ser valorizadas e compartilhadas.

  Além disso, o complexo de vira–lata pode limitar o potencial do indivíduo. Quando uma pessoa acredita que suas ideias ou talentos são inferiores aos de outros, ela pode se tornar menos propensa a se arriscar e a buscar novas oportunidades. Essa mentalidade pode inibir a criatividade e a inovação, essenciais em um mundo cada vez mais globalizado. Ao acreditar em seu valor, cada um pode contribuir para o progresso da sociedade, trazendo novas soluções e perspectivas.

  Outro aspecto importante é que o complexo de inferioridade pode afetar as relações interpessoais. Quando alguém se sente inferior, isso pode gerar insegurança e desconfiança nas interações sociais. Por outro lado, ao cultivar a autoconfiança e o respeito por si mesmo e pelos outros, cria–se um ambiente mais saudável e colaborativo. Relações baseadas na igualdade e no reconhecimento das capacidades individuais são fundamentais para o desenvolvimento social.

  Superar o complexo de vira–lata é um passo essencial para que os países latino–americanos possam ocupar com protagonismo o seu lugar no cenário global com dignidade e respeito. Ao reconhecer suas próprias forças e talentos, os latino–americanos e especificamente os brasileiros podem se tornar protagonistas da sua história, contribuindo para um futuro mais promissor.

  Deixar para trás o complexo de vira–lata é vital para a construção da autoestima individual e coletiva. Valorizar nossa cultura, acreditar em nosso potencial e cultivar relações saudáveis são atitudes que nos levarão a um país mais forte e unido.

Contexto histórico e cultural

  O complexo de vira–lata surgiu em um contexto onde o Brasil e a América Latina, por muito tempo, foram vistos como um países em desenvolvimento, muitas vezes subestimados em comparação a potências como os Estados Unidos e a Europa. Essa visão externa influenciou a autopercepção dos brasileiros e dos povos do continente americano, levando à crença de que tudo que vem de fora é superior. Essa ideia se perpetuou em diversas áreas, como na literatura, na arte e até mesmo na ciência.

Impacto na educação

  No ambiente educacional, essa mentalidade pode afetar o desempenho dos alunos. Estudantes que sentem que suas contribuições não são valorizadas podem se desmotivar e não explorar todo o seu potencial. Promover uma educação que valorize a cultura local e estudando a história da América Latina, conhecendo as conquistas brasileiras e de luta dos povos latinos e andinos pode ajudar a construir uma autoestima mais sólida desde cedo.

Exemplo de superação

  Um exemplo inspirador é o crescimento da indústria criativa no Brasil, como a Música Popular Brasileira –MPB e o cinema nacional. Artistas brasileiros têm conquistado reconhecimento internacional, mostrando que é possível ser valorizado globalmente sem abrir mão da identidade cultural. Isso demonstra que a autoconfiança e o orgulho nacional podem gerar resultados positivos.

O papel das redes sociais

  As redes sociais também desempenham um papel importante na luta contra o complexo de vira–lata. Com a possibilidade de compartilhar produções culturais locais e histórias de sucesso, muitas pessoas têm encontrado plataformas para expressar seu valor e suas realizações. Isso ajuda a redefinir a narrativa sobre o que significa ser brasileiro e ao pertencimento de sul–americanos e latino–americanos e a promover uma imagem mais positiva dos países da América Latina.

A importância do empoderamento

  Empoderar indivíduos para que se sintam confiantes em suas capacidades são fundamentais para mudar essa mentalidade. Iniciativas que incentivam o empreendedorismo local – social – econômico, por exemplo, ajudam as pessoas a perceberem que podem criar e inovar dentro do Brasil e no continente americano, contribuindo para um ciclo de positividade, autoconfiança e autoestima.

  Em síntese, a superação do complexo de vira–lata é um desafio que todos nós, como povo, comunidade e sociedade organizada, devemos enfrentar. Ao valorizar nossa cultura, acreditar em nosso potencial e promover o respeito mútuo, podemos transformar a percepção que temos de nós mesmos e do nosso país. Essa mudança não só fortalece a autoestima individual, mas também impulsiona o desenvolvimento social e econômico do Brasil e de toda a América Latina. Ao reconhecer e celebrar nossas conquistas, estamos não apenas construindo um futuro mais promissor para nós mesmos, mas também inspirando as futuras gerações a abraçarem sua identidade com orgulho e confiança. É hora de deixar para trás o complexo de vira–lata e assumir nosso lugar como protagonistas na construção de uma nação soberana, solidária, fraterna, forte e unida.


quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Fundamento ontológico da ciência

agosto 08, 2024

 



Frederico Costa, professor da UECE


No ato de trabalho, que funda o existir humano, há dois momentos o pensar e o produzir. No primeiro momento é posto os fins e se buscam os meios para sua realização; no segundo momento o fim posto chega a sua realização. Essa dialética que gera a necessidade é posta da seguinte forma por Lukács:


[...] um projeto ideal alcança a realização material, o pôr pensado de um fim transforma a realidade material, insere na realidade algo de material que, no confronto com a natureza, representa algo de qualitativamente e radicalmente novo. Tudo isso é mostrado muito plasticamente pelo exemplo da construção de uma casa, utilizado por Aristóteles. A casa tem um ser material tanto quanto a pedra, a madeira etc. No entanto, do pôr teleológico surge uma objetividade inteiramente diferente dos elementos. De nenhum desenvolvimento imanente das propriedades, das legalidades e das forças operantes no mero ser-em-si da pedra ou da madeira se pode “deduzir” uma casa. Para que isso aconteça é necessário o poder do pensamento e da vontade humanos que organize material e faticamente tais propriedades em conexões, por princípio, totalmente novas. No entanto, o pôr do fim e a investigação dos meios nada podem produzir de novo enquanto a realidade natural permanecer o que é em si mesma, um sistema de complexos cuja legalidade continua a operar com total indiferença no que diz respeito a todas as aspirações e ideias do homem. Aqui a investigação tem uma dupla função: de um lado evidencia aquilo que em si governa os objetos em questão, independentemente de toda consciência; de outro, descobre neles aquelas novas conexões, aquelas novas possibilidades de funções através de cujo pôr-em-movimento tornam efetivável o fim teleologicamente posto (2013, p. grifo meu).


Eis o locus da atividade que faz jorrar incessantemente a necessidade da ciência. Ao transformar a natureza para produzir seus meios de vida os seres humanos precisam conhecer a realidade em si dos objetos a serem transformados, independentemente de toda consciência; simultaneamente deve descobrir as propriedades e nexos internos dos objetos que possibilitem a produção de novos produtos que foram projetados idealmente. Esse movimento abstrato-ontológico vale tanto para a produção de um arco e flecha como para a construção de uma usina nuclear. Não é possível transformar o mundo sem conhecê-lo como ele é. Dessa maneira, a atividade própria dos seres humanos de produzir seus meios de vida é que exige a necessidade da ciência e de suas características básicas.


LUKÁCS, Guyörgy. Para uma ontologia do ser social II. São Paulo: Boitempo, 2013.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

O problema da totalidade em Lukács: seu caminho metodológico VI

agosto 05, 2024


Antonio Marcondes, Pós-doutor em Educação - GPOSSHE/UECE 


   É na segunda parte da Ontologia, principalmente, que Lukács vai se dedicar aos problemas categoriais mais decisivos, conferindo tratamento sistemático aos complexos do trabalho, da reprodução social, do ideal e da ideologia e do estranhamento. É a reflexão sistemática[1] destes complexos categoriais que fundamentais do ser social que irá permitir a Lukács avançar na adequada sistematização do método de Marx e do “renascimento do marxismo” em bases plenamente materialistas, ontológicas. Foi nesse sentido, que Lukács pensou a “teoria social de Marx” enquanto uma “ontologia do ser social”, ou seja, um estudo sistemático acerca do autodesenvolvimento da vida “material” e “espiritual” dos indivíduos. Assim, são formas de serdeterminações da existência. O fundamento materialista destas formulações de Lukács tem como pressuposto efetivo o fato do ser humano se autoproduzir a partir do trabalho, isto é, o processo de atividade material e espiritual realizada pela unidade sujeito-objeto que cria as objetivações sociais. Essa unidade está fundada na relação entre e teleologia (prévia ideação, os fins projetados pela consciência) e causalidade (o correto conhecimento dos nexos da realidade material), que passa a determinar as possibilidades concretas da liberdade humana.

   Com esse fundamento materialista Lukács estabelece um novo sentido, plenamente objetivo (ontológico) da categoria da totalidade, corrigindo assim, a dupla determinação metodológica na qual ela estava fundada em História e consciência de classe. Portanto, na Ontologia, a categoria da totalidade recebe o tratamento adequado, ou seja, ela não é “um fato formal do pensamento, mas constitui a reprodução ideal do realmente existente”, pois, “em toda reprodução ideal de uma conexão concreta, tem sempre em vista a totalidade do ser social” e a partir dela “sopesa a realidade e o significado” concreto de “cada fenômeno singular” (LUKÁCS, 2012, p. 296-297). A totalidade é uma determinação do mundo objetivo em suas sucessões, conexões internas, contradições, processos, relações e movimento. Ela constitui “o eixo correto para a correta compreensão das leis do desenvolvimento objetivo do real, assim como a dialética é o eixo dos nexos entre seus momentos”, como afirma Guido Oldrini (2013)[2].

   Para os principais estudiosos desta última obra de Lukács, notadamente aqui no Brasil, Celso Frederico e José Paulo Netto, a Ontologia é um livro que certamente não passa sem problemas, muito embora, é com ele efetivamente que se abrem novos horizontes “teórico-filosóficos” de avanço do marxismo e o seu subsequente “renascimento”. Para nós esse avanço de Lukács na fundamentação adequada da categoria da totalidade enquanto um princípio constitutivo do método dialético de Marx é uma conquista metodológica decisiva para compreensão concreta da nova dinâmica de acumulação, exploração e expansão do capital, bem como, suas inevitáveis contradições no mundo hoje e suas correspondentes tendências de pensamento como o irracionalismo pós-moderno. Seguramente, a dialética marxista em Lukács constitui um método científico de compreensão, formação humana e construção transformadora da realidade. Desse modo, a prioridade ontológica do ser social constitui um critério metodologicamente decisivo para compreender adequadamente os fundamentos da categoria da totalidade enquanto uma determinação do mundo objetivo. 

 



[1] Embora como nos esclarece José Paulo Netto: “[...] toda a documentação disponível revela que Lukács não se deu por satisfeito com a arquitetura da Ontologia. Muito especialmente, a ele desagradou a forma expositiva, em que o tratamento histórico não se articula adequadamente ao tratamento teórico-sistemático. Mas também se lhe afiguram insuficientes algumas ênfases e mesmo desenvolvimentos no cuidado com os ‘complexos de problemas’. Por isso, ele empenhou-se em redigir uma nova versão da obra [...]. Esse novo texto [...], [prolegômenos para uma ontologia do ser social: questões de princípios para uma ontologia hoje tornada possível]” publicado em 1984 em alemão(NETTO, 2012, p. 18, itálico no original, apresentação da Ontologia vol.1) .

[2] Em busca das raízes da ontologia (marxista) de Lukács incluído na edição da Ontologia de Lukács vol. 2, Boitempo 2013.

domingo, 4 de agosto de 2024

Bertha Lutz: expoente feminista e líder movimento sufragista no Brasil

agosto 04, 2024

Bertha Lutz – Wikipédia, a enciclopédia livre
Wikipédia

   Há 130 anos, em 2 de agosto de 1894, nascia a bióloga, diplomata e educadora brasileira Bertha Lutz. Expoente da luta feminista no século XX, Bertha foi uma das principais líderes do movimento sufragista no Brasil, tendo uma atuação de grande importância para a conquista dos direitos das mulheres. Ela foi a segunda mulher a ocupar o cargo de deputada federal no Brasil e representou o país na convenção que deu origem à ONU. Destacou-se ainda como cientista, atuando como pesquisadora do Museu Nacional e contribuindo para a descoberta e catalogação de novas espécies de anfíbios.

     Bertha Lutz nasceu em São Paulo, filha da enfermeira britânica Amy Fowler e do médico brasileiro Adolfo Lutz. Seu pai é reconhecido como o pioneiro da medicina tropical e da epidemiologia. Ele foi diretor do Instituto Bacteriológico de São Paulo e ajudou a combater doenças como febre amarela, hanseníase e malária. Bertha cursou as primeiras letras em São Paulo e concluiu o estudo primário no Rio de Janeiro, para onde se mudou em 1908, acompanhando o pai, nomeado pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz. Em seguida, transferiu-se para a França, acompanhada da mãe e do irmão, Gualter Adolpho, a fim de dar continuidade aos estudos.

    Interessada pela ciência desde a infância, Bertha ingressou no curso de Ciências Naturais da Universidade de Paris. Durante a graduação, a brasileira teve os primeiros contatos com o movimento feminista. Também fez amizade com a enfermeira Jerônima Mesquita, que seria sua futura parceira de luta pelos direitos das mulheres. Formada em 1918, Bertha regressou ao Brasil e passou a trabalhar como assistente de seu pai na Seção de Zoologia do Instituto Oswaldo Cruz.

     Em 1919, Bertha tentou participar de um concurso público para o Museu Nacional, mas teve sua inscrição barrada por ser mulher. Ela recorreu então à Justiça e apresentou uma recomendação de Rui Barbosa, conseguindo autorização para se inscrever. Bertha foi aprovada em primeiro lugar no concurso e se tornou a segunda mulher a ser admitida no serviço público do Brasil. Foi nomeada secretária do Museu Nacional, tornando-se posteriormente pesquisadora da instituição.

Fonte: @pensar_historia Instagram

O problema da totalidade em Lukács: seu caminho metodológico V

agosto 04, 2024

  

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Antonio Marcondes, Pós-doutor em Educação - GPOSSHE/UECE


   No esforço de constituir uma Estética sistemática em bases materialistas, num contexto fortemente marcado pela concepção estética oficial do stalinismo, isto é, o “realismo socialista”, Lukács passa a desenvolver as ideias centrais do que seria para ele uma autêntica concepção marxista da arte. Antes o filósofo húngaro havia escrito Introdução a uma estética marxista (1957), material que seria a base teórica para a publicação de sua Estética em 1963. No transcurso histórico depois de História e consciência de classe também foram publicados Romance históricoO jovem Hegel, A destruição da razãoExistencialismo ou marxismo? dentre outros. 

     Depois do encontro com os originais dos Manuscritos de Marx em Moscou, Lukács se coloca em condições “de apresentar adequadamente, de maneira científica e marxista, aquilo que na História e consciência de classe seguia por uma trilha equivocada”. Desse modo, entendemos que apesar do estudo insuficientemente crítico de Hegel na obra de 1923, com todos os seus equívocos, ainda assim, foi o ponto de partida necessário para Lukács avançar progressivamente, agora com base em novos estudos, em direção “à tentativa de uma ontologia do ser social”. O próprio autor (e isto alenta nossos propósitos de pesquisa) deixa em aberto que não é sua tarefa “estabelecer em que grau certas tendências da História e consciência de classe, justas em sua intenção, produziram um resultado correto e orientado para o futuro”, de sua atividade  (LUKÁCS, 2003, p. 47-50, itálico no original). Com base nisso, afirmamos inicialmente, que a categoria da totalidade em História e consciência de classe constitui, a despeito de sua dupla determinação metodológica, a categoria que representará o ponto de partida para Lukács avançar continuamente (de forma mais consciente a partir da “virada ontológica” da década de 1930) em direção à adequada fundamentação do método de Marx e suas determinações categoriais plenamente materialistas, ontológicas. Isso será decisivo para a autêntica apropriação do marxismo.

     Portanto, a passagem progressiva que Lukács realiza em direção a sua obra de maturidade, representa um sério e gigantesco esforço intelectual na tentativa de desenvolver a herança teórica, cultural e científica de Marx. Isso, efetivamente será consolidado na Ontologia do ser social. Esta obra póstuma e inacabada foi o último trabalho no qual o filósofo húngaro se dedicou até seu falecimento em 1971. A Ontologia fora originalmente concebida como uma introdução a uma Ética, mas tal foram suas proporções, demasiadamente amplas, que acabou tornando-se uma obra autônoma. Em suas volumosas páginas[1] divididas em dois volumes na edição brasileira, Para uma ontologia do ser social de Lukács publicada originalmente em húngaro em 1976, em italiano a primeira parte em 176 e a segunda em 1981 e no alemão a edição integral é de 1984[2]. Nesta obra Lukács vai haurir a partir das formulações do próprio Marx uma profunda investigação sobre o que seriam os fundamentos ontológicos decisivos do ser social, ou seja, a partir de Marx, Lukács desenvolve um conjunto de reflexões histórico-sistemáticas que visam estabelecer em sentido ontológico, “a determinação histórico-concreta” das peculiaridades do ser social e de sua reprodução. 



[1] Na edição da Boitempo (2012, 2013): Vol. 1, 431 páginas e o vol. 2, 842 páginas, respectivamente.

[2] Ver José Paulo Netto na apresentação do volume 1 da Ontologia de Lukács pela edição da Boitempo, 2012.

O poder da participação popular: fortalecendo a cidadania e a democracia nas ruas

agosto 04, 2024

 

Crédito: REUTERS/Ricardo Moraes


Élcio Cavalcante, Professor de História


  A história de um povo consciente se faz nas ruas, pois quando um povo está organizado ele expressa e expõe as suas pautas reivindicatórias nas manifestações de ruas, estampando para todos os seus desejos, sonhos, ânsias e utopias. A participação popular nas ruas é fundamental para fortalecer a cidadania e a democracia em uma sociedade. Quando as pessoas se unem e se manifestam publicamente em defesa de seus direitos e valores, estão exercendo sua voz e contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Essa atuação nas ruas pode pressionar as autoridades a agirem em prol do bem comum, além de promover a conscientização e o engajamento cívico dos cidadãos. A história nos mostra inúmeros exemplos de como os movimentos populares foram capazes de promover mudanças significativas e avanços democráticos. Destarte, a participação ativa nas ruas é uma ferramenta poderosa para garantir que a voz do povo seja ouvida e respeitada.


  A participação popular nas ruas pode ocorrer de diversas formas, como manifestações, protestos, passeatas, greves e outras formas de mobilização coletiva. Essas ações são importantes para chamar a atenção da sociedade e das autoridades para questões relevantes, como direitos humanos, igualdade de gênero, justiça social, meio ambiente, entre outros temas que impactam diretamente a vida das pessoas. Além disso, a presença massiva nas ruas demonstra a força e a união do povo em torno de causas comuns, pressionando os governantes a atenderem às demandas populares e a respeitarem os princípios democráticos. A participação popular nas ruas também contribui para a formação de uma consciência crítica na sociedade e para o fortalecimento da democracia participativa, na qual os cidadãos não apenas elegem seus representantes, mas também participam ativamente das decisões políticas que afetam suas vidas.


    Em síntese, a participação popular nas ruas em defesa da cidadania e da democracia é essencial para garantir que os direitos e interesses da população sejam respeitados e atendidos. Quando as pessoas se unem e se manifestam coletivamente, estão exercendo sua cidadania de forma ativa e contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e democrática. Portanto, é fundamental que os cidadãos estejam dispostos a se engajar nas lutas sociais e a ocupar os espaços públicos em defesa de seus direitos e valores, pois somente assim será possível fortalecer a democracia e promover mudanças positivas em busca de um mundo melhor para todos.

sábado, 3 de agosto de 2024

O problema da totalidade em Lukács: seu caminho metodológico IV

agosto 03, 2024

 


Antonio Marcondes, Pós-doutor em Educação / GPOSSHE-UECE


        O reconhecimento do exame insuficientemente crítico de Hegel em História e consciência de classe, principalmente com relação ao postulado idealista do sujeito-objeto idêntico, leva Lukács a se empenhar no avanço progressivo rumo a uma adequada fundamentação da dialética marxista, e isso começar a ficar evidente a partir do início da década de 1930, quando ele se torna colaborador científico do Instituto Marx-Engels de Moscou. Mas já um pouco antes em 1929 em suas “Teses de Blum” (pseudônimo utilizado por Lukács em suas atividades clandestinas). Essas teses foram elaboradas para o Segundo Congresso do Partido Comunista da Hungria em 1929, e tinham como objetivo compreender concretamente a nova realidade mundial caracterizada pela relativa estabilidade do capitalismo e pelo “refluxo” do movimento revolucionário[1].

     Nessa ocasião Lukács, em parceria com o teórico e crítico soviético Mikhail Lifschitz, teve a oportunidade de ler o original dos Manuscritos econômico-filosóficos de 1844 de Marx. A leitura destes textos direcionou Lukács a romper com todos os preconceitos idealistas de História e consciência de classe. Nas palavras de Lukács (2003, p. 46): “[...] ainda consigo me lembrar do efeito transformador que produziu em mim as palavras de Marx sobre a objetificação como propriedade material primária de todas as coisas e relações”. Essa correta compreensão de que objetificação consiste em um tipo natural, positivo ou negativo, do domínio do homem sobre o mundo e alienação como uma variante peculiar que se realiza sob determinadas circunstâncias sociais, possibilitou Lukács avançar criticamente em relação aos impasses categoriais de História e consciência de classe.

         Embora a crítica de Lukács contida no prefácio de 1967, ao que ele considera como equívocos idealistas seja, inquestionável, para maior parte da tradição marxista hoje, no sentido de se compreender os problemas dos fundamentos do livro de 1923, ela também representa a possibilidade histórica de reconhecer que este livro foi um ponto de partida para Lukács avançar progressivamente em direção a uma adequada fundamentação materialista das categorias decisivas do ser social e da dialética marxistas na sua obra de maturidade.



[1] Em Celso Frederico (1997, p. 20-21, itálico no original): “Esse é o primeiro texto de Lukács voltado para a análise política concreta de uma conjuntura. Nele, Lukács constata que a correlação de forças presentes naquele momento histórico exigia a superação do modelo da ‘República dos conselhos’, o que o leva a defender a ideia de uma ‘ditadura democrática do proletariado e do campesinato’. Na nova conjuntura, a luta revolucionária deveria concentrar-se nas reformas democráticas e não na reivindicação imediata do poder operário [...]. As ideias contidas nas ‘Teses de Blum’ estarão presentes em toda a produção futura de um Lukács empenhado em combater, no campo das artes, qualquer tipo de sectarismo”.

A fotografia política, poética e ambiental de Sebastião Salgado

agosto 03, 2024

 

Amazonas Imagens/Sony Pictures Classics (archive.nytimes.com)



Élcio Cavalcante, Professor de História


 Sebastião Salgado é um renomado fotógrafo brasileiro conhecido por seu trabalho documental, político, social e ambiental. Sua obra abrange temas como trabalho manual, migração e questões ambientais. Ele utiliza a fotografia como uma forma de conscientização e denúncia social, capturando a essência e a beleza da humanidade em meio às adversidades. Sua contribuição para a fotografia e para a sociedade é imensurável.


  O famoso fotógrafo Sebastião Ribeiro Salgado Júnior nasceu em 8 de fevereiro de 1944, em Aimorés, Minas Gerais, e antes de se tornar fotógrafo, trabalhou como economista. Sua carreira na fotografia começou na década de 1970, e desde então ele viajou extensivamente pelo mundo, documentando diferentes culturas e realidades. Muitas de suas obras mais conhecidas foram publicadas em livros, como “Trabalhadores”, “Terra”, “Serra Pelada”, “Outras Américas”, “África”, “Perfume de Sonho”, "Êxodos" e "Gênesis", este último um projeto que durou oito anos e que capturou paisagens, comunidades e tradições ao redor do mundo.


  Além de seu trabalho artístico, Sebastião Salgado também é reconhecido por seu ativismo ambiental. Ele e sua esposa fundaram o Instituto Terra, uma organização que se dedica à conservação ambiental e à restauração de ecossistemas degradados no Brasil.


 Salgado recebeu inúmeros prêmios ao longo de sua carreira e é membro da renomada agência de fotografia Magnum Photos. Sua contribuição para a fotografia documental e para as causas sociais é amplamente admirada em todo o mundo.


 Sem dúvida, as fotografias de Sebastião Salgado são consideradas referências da era moderna, tanto em termos estéticos quanto em termos de impacto social. Sua habilidade em capturar a essência da condição humana e as complexidades do mundo contemporâneo elevaram sua obra a um status de destaque no mundo da fotografia. Suas imagens são poderosas e muitas vezes comoventes, transmitindo histórias e realidades que muitas vezes passam despercebidas.


  A habilidade de Sebastião Salgado em documentar questões sociais e ambientais de forma tão impactante o tornou uma figura influente não apenas na fotografia, mas também no ativismo e na conscientização global. Sua capacidade de contar histórias através de suas imagens é verdadeiramente notável e inspiradora.


  Sebastião Salgado é um dos fotógrafos mais renomados da era moderna, cujo trabalho vai além do aspecto estético da fotografia. Sua capacidade de capturar a essência da humanidade, documentar questões sociais e ambientais e provocar reflexão e mudança através de suas imagens o torna uma figura verdadeiramente influente. Seu legado na fotografia e no ativismo social continuará a inspirar gerações futuras a enxergar o mundo de forma mais sensível, profunda e compassiva.