Frederico Costa, professor da UECE
No ato de
trabalho, que funda o existir humano, há dois momentos o pensar e o produzir. No
primeiro momento é posto os fins e se buscam os meios para sua realização; no
segundo momento o fim posto chega a sua realização. Essa dialética que gera a
necessidade é posta da seguinte forma por Lukács:
[...] um projeto ideal alcança a realização material, o pôr
pensado de um fim transforma a realidade material, insere na realidade algo de material
que, no confronto com a natureza, representa algo de qualitativamente e
radicalmente novo. Tudo isso é mostrado muito plasticamente pelo exemplo da
construção de uma casa, utilizado por Aristóteles. A casa tem um ser material
tanto quanto a pedra, a madeira etc. No entanto, do pôr teleológico surge uma
objetividade inteiramente diferente dos elementos. De nenhum desenvolvimento
imanente das propriedades, das legalidades e das forças operantes no mero
ser-em-si da pedra ou da madeira se pode “deduzir” uma casa. Para que isso
aconteça é necessário o poder do pensamento e da vontade humanos que organize
material e faticamente tais propriedades em conexões, por princípio, totalmente
novas. No entanto, o pôr do fim e a investigação dos meios nada podem produzir
de novo enquanto a realidade natural permanecer o que é em si mesma, um sistema
de complexos cuja legalidade continua a operar com total indiferença no que diz
respeito a todas as aspirações e ideias do homem. Aqui a investigação tem
uma dupla função: de um lado evidencia aquilo que em si governa os objetos em
questão, independentemente de toda consciência; de outro, descobre neles
aquelas novas conexões, aquelas novas possibilidades de funções através de cujo
pôr-em-movimento tornam efetivável o fim teleologicamente posto (2013, p.
grifo meu).
Eis o locus da atividade que faz jorrar incessantemente a necessidade da ciência. Ao transformar a natureza para produzir seus meios de vida os seres humanos precisam conhecer a realidade em si dos objetos a serem transformados, independentemente de toda consciência; simultaneamente deve descobrir as propriedades e nexos internos dos objetos que possibilitem a produção de novos produtos que foram projetados idealmente. Esse movimento abstrato-ontológico vale tanto para a produção de um arco e flecha como para a construção de uma usina nuclear. Não é possível transformar o mundo sem conhecê-lo como ele é. Dessa maneira, a atividade própria dos seres humanos de produzir seus meios de vida é que exige a necessidade da ciência e de suas características básicas.