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Frederico Costa, professor da UECE e coordenador do IMO
Se olharmos para o mundo ao nosso redor é possível perceber a diversidade de objetos e processos: ínfimas partículas, buracos negros, matéria escura, galáxias, sistemas estelares, organismos unicelulares, seres vivos complexos, formações sociais, classes, meios de produção, mercados, nações, cultura. O ser, isto é, tudo o que existe ou tem a possibilidade de existir desdobra-se em três esferas básicas conhecidas: o ser inorgânico, o ser orgânico ou biológico e o ser social. Essas esferas são conexas: o ser inorgânico é o alicerce da vida e os seres humanos são entes naturais-sociais.
Uma pergunta que acompanha as reflexões humanas é se nessa multiplicidade de formas e qualidades há algo comum. Há unidade na diversidade encontrada no Universo?
Já na antiguidade pensadores buscaram encontrar o fundamento originário de todos os fatos e processos da realidade. Tales de Mileto (624-546 a.C.), considerado o primeiro filósofo, via esse fundamento na água; outros localizavam tal elemento primordial no ar, no fogo ou em algo indefinido. Demócrito de Abdera (360-470 a.C.), discípulo de Leucipo (primeira metade do século V a.C.), desenvolveu a intuição fantástica de considerar que todos os seres são constituídos por diminutas partículas indivisíveis, os átomos. No século XX cientistas descobriram o átomo, a radioatividade e uma gigantesca complexidade estrutural no mundo subatômico e do macrocosmo.
Por muito complexos que sejam e quaisquer que sejam suas propriedades, todos os fatos e fenômenos da realidade são momentos do ser e são, para os seres humanos, objetos para os quais estão dirigidos seus pensamentos e atividade prática. Há, portanto, uma propriedade comum na infinita quantidade de eventos presentes no universo: eles existem, independente de pesarmos neles ou não. Essa característica universal dos processos da realidade é unificada sob o conceito de matéria.
Mas, aqui surge uma pergunta: como saber se esse ou aquele fenômeno existe à margem da consciência, isto é, o que é material?
A resposta é tácita e plenamente verificável: a práxis social é o critério essencial. Marx afirma no Ad Feuerbach(Teses sobre Feuerbach) de 1845:
A questão de saber se o pensamento humano cabe alguma verdade objetiva [...] não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na prática que o homem tem de provar a verdade, isto é, a realidade e o poder, a natureza citerior [...] de seu pensamento. A disputa acerca da realidade ou não-realidade do pensamento – que é isolado da prática – é uma questão puramente escolástica (MARX e ENGELS, p. 533, 2007).
Portanto, a partir da prática histórico-social chega-se à categoria de matéria, que não se restringe a um processo isolado nem a um grupo de fenômenos, mas abarca toda a realidade. Abstraindo-se das particularidades, propriedades e aspectos conhecidos dos eventos, de seus nexos e interrelações concretas, expressa o principal de todos esses processos: a objetividade, ou seja, a existência do ser independente da consciência dos seres humanos. A categoria de matéria não é só uma categoria ontológica, ela, também, é fundamental para a teoria do conhecimento ou gnosiologia. Pois, o dado ontológico da objetividade do mundo, posto pela atividade humana primordial de transformar a natureza para satisfazer suas necessidades sociais, exige a apropriação e compreensão de como funciona a realidade.
Referências
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). São Paulo: Boitempo, 2007.