quarta-feira, 23 de outubro de 2024

BLOCO DE NOTAS: uma leitura histórica (cronológica) do Novo Testamento

outubro 23, 2024


Quais as vantagens de estudar a Bíblia? – Blog Gospel Goods


Frederico Costa, Professor da UECE


A ordem de leitura dos vinte e sete textos do cânon do Novo Testamento da Bíblia cristã   obedeceu a critérios ideológicos-teológicos. O objetivo foi consolidar ideias e práticas impostas pela autoproclamada ortodoxia dos primeiros cinco séculos do cristianismo (a chamada patrística) como, por exemplo: 1) a ideia de que Jesus morreu, foi sepultado e no terceiro dia ressuscitou; 2) a tentativa de harmonizar as diferentes percepções entre os próprios autores neotestamentários sobre quem teria sido Jesus; 3) identificar qual era a verdadeira mensagem de Jesus; 4) a visão de que Jesus foi amplamente citado pelos autores da Bíblia judaica (Antigo Testamento).

 

A leitura teológica da Bíblia é um fenômeno social ideológico porque visa apresentar uma visão da realidade e, com base nisso, induzir a certas formas de comportamento e de pensamento de indivíduos e comunidades. Essa perspectiva ideológica procura uniformizar as interpretações, alinhar as expectativas e as narrativas da experiência religiosa cristã com o objetivo de oferecer esperança e sentido de vida aos fiéis. Hoje há inúmeras leituras teológicas conforme a doutrina de cada corrente cristã, seja católica (modernista, conservadora, tradicional ou da libertação), seja protestante (luterana, calvinista, arminiana, pentecostal, adventista ou neopetencostal).

 

A ciência e a história, em particular, procuram compreender como e porque os processos reais que formaram o Novo Testamento ocorreram. Por isso, trabalham noutra perspectiva e utilizam uma leitura cronológica. Conforme  Chevitarese (2022),  a leitura cronológica do Novo Testamento:

 

1) Estabelece uma ordem cronológica dos textos, definindo quais seriam aqueles mais próximos e aqueles mais distantes de Jesus.

2) Reconhece que nenhum autor cristão do Novo Testamento foi testemunha ocular de Jesus.

3) Admite que entre a morte de Jesus, ocorrida na primeira metade dos anos 30 da Era Comum (EC), e o início da redação dos primeiros textos, que se deu nos anos 50 do século I, o Movimento de Jesus sem Jesus conheceu duas fases de produção de dados, que apesar de serem distintas, coexistiram entre si: a) as memórias de uma geração inteira de indivíduos que conheceram Jesus, e b) as tradições orais, que incluíam essas memórias, mas que englobavam também memórias de pessoas que nunca tiveram contato com Jesus;

4) Quanto mais antigo for um texto cristão, maiores serão as chances dele trazer narrativas que possam conter dados relacionados à vida de Jesus.

 

Essa postura científica de leitura dos textos do Novo Testamento em ordem cronológica possibilita o rompimento com as leituras teológicas, que distorcem a realidade dos fatos.

 

Eis o quadro de leitura cronológica do Novo Testamento publicado pela professora Juliana Cavalcanti.



Boa leitura.


Referências

CHEVITARESE, André Leonardo. Planejamento de leitura cronológica do Novo Testamento. Rio de Janeiro: Menocchio, 2022.

 https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=uyFew9vGZ5Y, Canal de Juliana Cavalcanti no YOUTUBE

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Bloco de Notas: educação e revoluções burguesas

outubro 22, 2024



Da revolução francesa ao Império de Napoleão


Frederico Costa, Professor da UECE


A educação escolar foi um dos resultados do processo de transição do feudalismo ao capitalismo. As contradições entre as relações de produção feudais, que travavam o desenvolvimento das forças produtivas, abriram uma época de crise, inovações, novas ideias e revoluções. A Reforma Protestante, o Renascimento, as Grandes Navegações, a generalização das relações mercantis, o humanismo, o mercantilismo, o absolutismo, a revolução científica, o iluminismo, conformam o período de ascensão e conquista do poder político pela burguesia. 


Godechot (1969) indica a natureza revolucionária do período entre 1770 e 1850, que trouxe grandes aportes para a educação na modernidade. De 1770 a 1783: Revolução Americana, formação da República dos Estados Unidos com um governo constitucional, liberal e o mais democrático dos conhecidos, até aquele momento. 1780-1783: levantes revolucionários na Irlanda e Inglaterra, cujos objetivos eram, por um lado a autonomia da Irlanda, por outro lado a reforma parlamentar na Inglaterra. 1783-1787: revolução nas Províncias Unidas para impedir que o estatúder (cargo político com funções executivas) se convertesse num rei hereditário e para implementar medidas democráticas nas instituições do país. Somente a intervenção armada da Inglaterra e da Prússia impediram que o movimento revolucionário triunfasse. 1787-1790: revolução nos Países Baixos Austríacos. A vitória desse movimento, que, num primeiro momento, esteve dirigido contra as reformas ilustradas de José II, deu origem a um verdadeiro partido democrático. 1768 e 1782: revoluções democráticas em Genebra que fracassaram devido à intervenção armada estrangeira. 1781: movimento revolucionário em Friburgo, Suíça. 1772 e 1789: o rei da Suécia se aliou aos burgueses e camponeses contra a nobreza e transformou o regime numa forma mais democrática. 1787-1815: Revolução Francesa. 1788-1794: Revolução Polaca. 1792-1801: Revolução Belga com a ajuda da França. 1792-1801: revolução na Renânia com ajuda da França. 1795: entrada de tropas francesas na Holanda, que concluiu a criação da República Bávara. 1796-1799: revolução nos diversos Estados italianos. 1798-1799: revolução na Suíça e formação da República Hevéltica. 1797-1801: o exército francês leva consigo os grandes princípios da Revolução Francesa às Ilhas Jônicas e, desse lugar, aos Balcans, Malta, Egito e Síria. 1805-1815: os grandes princípios da Revolução Francesa alcançam, por meio do exército francês, Europa Central, Polônia e Rússia. 1807-1814: a invasão da Espanha traz como consequência a revolução nas colônias espanholas da América, entre 1810 e 1820. Apesar da derrota de Napoleão, em 1815, o processo revolucionário é retomado na Itália e Espanha, em 1820; na Grécia, em 1821; na França, na Bélgica e na Polônia, em 1830; e, em toda a Europa Ocidental e Central, em 1848, na chamada Primavera dos Povos.


No processo histórico e contraditório que acompanha a emergência do capitalismo como modo de produção hegemônico e a ascensão da burguesia como classe dominante, a educação, em seu caráter de ação sistemática, e as reflexões sobre ela não ficaram imunes à luta de classes que envolvia a nobreza, os burgueses, o campesinato e outras camadas populares. A crise da educação cavaleiresca, os problemas da aprendizagem nas corporações, o surgimento da pedagogia humanística, as academias, as propostas da Reforma Protestante para as escolas, a reação católica da Contrarreforma para as escolas e o desenvolvimento da escola estatal colocaram questões sobre a organização escolar, o conteúdo curricular, a amplitude do sistema educacional, as formas de ensino, os objetivos da escola estatal, a formação de professores, o financiamento e relação entre escola e sociedade. Essas questões são respondidas de várias maneiras a partir de interesses de classes e frações de classes diferentes.


REFERÊNCIAS

 

GODECHOT, Jacques. Las revoluciones (1770-1799). Barcelona: Editorial Labor, 1969.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Diálogo com um companheiro sobre o "pobre de direita"

outubro 18, 2024


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Querido companheiro,


Por que o "pobre" (categoria mais mercadológica do que social, já que não se refere ao lugar das classes na produção) deveria ser naturalmente de esquerda? Sim, porque só faz sentido falar de "pobre de direita" como um ponto fora da curva se você achar que o "pobre" foi "normalmente"/"naturalmente",  ao longo da história, de esquerda.


É uma confusão entre a condição subalterna, explorada, eventualmente excluída do consumo e da produção, com o grau de consciência desta camada como classe. Num velho jargão hegeliano, adotado por Marx, uma confusão entre "classe em si" e "classe para si", isto é, entre sua existência objetiva no mundo e seu reconhecimento desta existência oprimida, que é obviamente sentida, mas não necessariamente entendida.


Este entendimento está sempre em disputa entre as camadas mais conscientes da classe trabalhadora (a classe dos "pobres") e a classe dominante. Aquela buscando explicar a origem da condição de explorado, e esta vendendo a ideia de que a competência, o afinco e, hoje, o empreendedorismo (infelizmente adotado pelos setores majoritários de esquerda) podem leva-lo à ascensão social, sem necessidade de luta nem de reivindicações. 


As classes dominantes detêm os meios materiais e políticos, o Estado, para fazer esta disputa, e as camadas mais conscientes dos "pobres" contam tão somente com sua organização. 


Ora, se a condição de pobre  e a consciência de classe dos pobres fossem a mesma coisa, pra que partido? Pra que Sindicato? A posse do Estado pelas classes proprietárias consiste, em boa parte, na função de tornar aparentemente universal, "de todos", justamente os valores desta classe dominante. 


O que há de novo, desde o final dos anos 70, é a renúncia da direção de nossas organizações, especialmente do PT e da CUT a travar esta disputa, ou de travar a disputa nos mesmos termos da classe dominante, o que no fim dá no mesmo. 


Resta o que, então? Botar a culpa de nossa derrota nos "pobres". Daí a invenção desta figura do "pobre de direita" que, se é "de direita", não é uma consciência a ser conquistada, mas um inimigo nosso. Isso se estende aos chamados crentes, em sua maioria pobres cuja consciência não disputamos aos pastores e padres, estes sim, conscientemente de direita. A esquerda prefere "lacrar", "sambar na cara do crente" com a nefasta "pauta dos costumes" que reforça a retórica dos pastores, esquecendo que o crente é gente como a gente, com carências e necessidades que, sem organização de classe, eles não conseguem transformar em bandeiras de luta e, portanto, acham guarida na igreja. 


Se intelectuais como Jessé de Souza voltassem por um momento a textos como a Ideologia Alemã, de Marx e Engels, tivessem um pingo de perspectiva materialista da história, evitariam passar essa vergonha de apontar o dedo para o "pobre de direita".


Com apreço,


Eudes Baima, Professor da UECE

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

outubro 17, 2024


A Moral Dele e a Nossa


Professor Eudes Baiman, Professor da UECE


O dito fenômeno Marçal  chama ainda mais atenção porque desafia inclusive o tradicional moralismo brasileiro. 


Durante décadas, apelar à retidão moral (ou à falta dela no adversário) foi um recurso certeiro para desqualificar os concorrentes. O moralismo colocava o confronto fora do alcance da política e era instrumento da desqualificação prévia, antes mesmo dos embates de ideias e propostas. Você já derrubava o adversário liminarmente porque cultivamos ao longo de séculos esta mentalidade julgadora (e condenadora) do caráter moral das pessoas. 


Marçal, depois de Bolsonaro, parece imune à desqualificação moral.


Ainda mais curioso é que determinações neste âmbito parecem não icomodar o núcleo essencial do público do qual ele parte, o público evangélico, tão distinto quanto à chamada "pauta moral". 


No caso, antes de Bolsonaro e, hoje, de Marçal, a boa e velha acusação de ladrão (no caso deste último, comprovada e com condenação na Justiça) parece não incomodar ao puritano evangélico ou ao cidadão de classe média aspirante à rico, sempre tão dispostos a apontar o crime do semelhante.


Muito menos efeito faz o desmascaramento, ainda que cabal e contundente, da mentira, do estelionato e da falsificação. 


Marçal, ainda mais que Bolsonaro, parece assumir abertamente o uso de meios ilegais como instrumento para derrotar o Inimigo, com "I" maiusculo (à moda dos evangélicos quando se referem ao Diabo), inclusive usando positivamente o fato de ser o único a fazê-lo e a reclamar o ato como legitimo, ao invés de tentar refutar as evidências de que comete ilícito. 


Mentir, enganar, roubar sem constrangimento e reivindicando isso como atestado de audácia e destemor no combate ao Inimigo, ao contrário, parece uma qualidade frente ao seu público: o cara que irá até o fim, sem constrangimentos legais ou de consciência para nos livrar do perigo do comunismo, da esquerda ou, como dizem alguns segmentos católicos, do modernismo.


Entender esta falta de escrúpulos sagrada, e até santificada, arma de um guerreiro fiel e destemido, exige estudar mais, contudo, a atitude de Marçal que seu eleitor médio espera e valoriza, está ligada à recusa do atual estado de coisas, da ordem vigente, o "sistema", da qual Lula e o PT parecem ser os principais defensores (o chamado Estado democrático de direito), do qual os mais pobres e as classes médias apavoradas e desalentadas em sua esperança de ascensão não tiram nenhum proveito, e, antes, surge como um obstáculo a suas demandas que parecem acessíveis apenas se retiradas as barreiras (direitos civis e trabalhistas, garantias do trabalho, etc.) à selvagem livre iniciativa e ao empreendedorismo individual. Não é casual que o porta-voz desta causa desregulamentadora seja um coach. 


Não surpreende ainda que o aspecto de interseção entre esta nova extrema-direita e a velha direita resida justo nesta repulsa comum aos limites legais à exploração do capital.


Mas o fato é que a ordem atual, as instituições vigentes tampouco asseguram o bem estar, a manutenção das conquistas e os direitos do povo trabalhador, especialmente de suas frações mais jovens, de modo que o discurso de Lula e da esquerda em geral de defesa das instituições como sinônimo de defesa da democracia soa a estes setores como uma defesa da merda de vida que ai está, deixando ampla avenida para Marçal passar com seu cortejo de horrores. 


A renúncia à transformação do que aí está por parte da direção do PT, em nome da democracia, dá passo ao discurso transformista reacionário da extrema-direita, com o qual os inventores da Ponte para o Futuro da Faria Lima se compõem com grande facilidade. 


A adesão das direções majoritárias da esquerda à defesa do sistema é a chave para entender o êxito do discurso antissistema da extrema-direita. 


As parcelas mais desesperadas do povo parecem seduzidas por aqueles que não têm medo de apelar ao crime, à mentira e ao estelionato para derrubar o sistema.

 

Lembrei de uma passagem de Trotsky, em um dos seus escritos sobre a ascensão do fascismo e do nazismo, em que ele diz que nos momentos de crise extrema (a hoje chamada polarização), a pequena-burguesia arruinada, as classes médias desesperadas e os desclassizados famintos seguem os que lhes parecem mais audazes e decididos. A moderação do PT e da esquerda se volta contra eles mesmos, enquanto a ausência de limites da extrema-direita se mostra como sua arma mais eficaz.

outubro 17, 2024



Manifestações anti-imigração e antifascista a 350 metros de distância no Porto


Saudações, camaradas.

Me chamo Marcondes, professor e representante do Sindiute na EMTI Aldemir Martins, Barra do Ceará e pesquisador (GPOSSHE-UECE/GEM-UFC).


Enquanto educador e comunista, tenho consciência de que a luta de classes constitui uma condição inescapável de existência na sociedade capitalista, nesse sentido, nossa tarefa imediata é construir uma unidade ampla com todos os educador@s de Fortaleza, cuja finalidade maior é a mobilização constante pela disputa de votos em favor de nosso candidato do PT.


Com efeito, não podemos nos eximir, tampouco hesitarmos em agir, a partir de agora, em nossos locais de trabalho, família, instituições, ruas e praças da capital alencarina na defesa irrestrita da candidatura do companheiro Evandro Leitão nessa empreitada histórica pra debelar a ameaça fascista da extrema-direita representada pelo inepto e inconsequente André Fernandes, mais um rebento monstruoso do energúmeno e genocida...


Como dizia nossa saudosa Rosa Luxemburgo: "quem não faz política, sofre com a política dos outros". E o pior que existe na política brasileira atualmente, é o fenômeno do bolsonarissmo. Sendo assim, o fortalecimento da campanha e, por conseguinte, a luta pela vitória de Evandro, representará, sem sombra de dúvidas, mais uma conquista história na defesa dos valores democráticos e civilizatórios na nossa cidade.


Cumpre assinalar, dessa forma, que defender o voto no segundo turno em EVANDRO LEITÃO 13, é defender a democracia, a justiça social distributiva, o respeito às mulheres,  negros, pobres, LGBTQIA+, pessoas com deficiência, trabalhadores como um todo, ou seja, é uma luta renhida contra a barbárie.


Uni-vos camaradas. Só a luta transforma a vida!!!