terça-feira, 22 de outubro de 2024

Bloco de Notas: educação e revoluções burguesas



Da revolução francesa ao Império de Napoleão


Frederico Costa, Professor da UECE


A educação escolar foi um dos resultados do processo de transição do feudalismo ao capitalismo. As contradições entre as relações de produção feudais, que travavam o desenvolvimento das forças produtivas, abriram uma época de crise, inovações, novas ideias e revoluções. A Reforma Protestante, o Renascimento, as Grandes Navegações, a generalização das relações mercantis, o humanismo, o mercantilismo, o absolutismo, a revolução científica, o iluminismo, conformam o período de ascensão e conquista do poder político pela burguesia. 


Godechot (1969) indica a natureza revolucionária do período entre 1770 e 1850, que trouxe grandes aportes para a educação na modernidade. De 1770 a 1783: Revolução Americana, formação da República dos Estados Unidos com um governo constitucional, liberal e o mais democrático dos conhecidos, até aquele momento. 1780-1783: levantes revolucionários na Irlanda e Inglaterra, cujos objetivos eram, por um lado a autonomia da Irlanda, por outro lado a reforma parlamentar na Inglaterra. 1783-1787: revolução nas Províncias Unidas para impedir que o estatúder (cargo político com funções executivas) se convertesse num rei hereditário e para implementar medidas democráticas nas instituições do país. Somente a intervenção armada da Inglaterra e da Prússia impediram que o movimento revolucionário triunfasse. 1787-1790: revolução nos Países Baixos Austríacos. A vitória desse movimento, que, num primeiro momento, esteve dirigido contra as reformas ilustradas de José II, deu origem a um verdadeiro partido democrático. 1768 e 1782: revoluções democráticas em Genebra que fracassaram devido à intervenção armada estrangeira. 1781: movimento revolucionário em Friburgo, Suíça. 1772 e 1789: o rei da Suécia se aliou aos burgueses e camponeses contra a nobreza e transformou o regime numa forma mais democrática. 1787-1815: Revolução Francesa. 1788-1794: Revolução Polaca. 1792-1801: Revolução Belga com a ajuda da França. 1792-1801: revolução na Renânia com ajuda da França. 1795: entrada de tropas francesas na Holanda, que concluiu a criação da República Bávara. 1796-1799: revolução nos diversos Estados italianos. 1798-1799: revolução na Suíça e formação da República Hevéltica. 1797-1801: o exército francês leva consigo os grandes princípios da Revolução Francesa às Ilhas Jônicas e, desse lugar, aos Balcans, Malta, Egito e Síria. 1805-1815: os grandes princípios da Revolução Francesa alcançam, por meio do exército francês, Europa Central, Polônia e Rússia. 1807-1814: a invasão da Espanha traz como consequência a revolução nas colônias espanholas da América, entre 1810 e 1820. Apesar da derrota de Napoleão, em 1815, o processo revolucionário é retomado na Itália e Espanha, em 1820; na Grécia, em 1821; na França, na Bélgica e na Polônia, em 1830; e, em toda a Europa Ocidental e Central, em 1848, na chamada Primavera dos Povos.


No processo histórico e contraditório que acompanha a emergência do capitalismo como modo de produção hegemônico e a ascensão da burguesia como classe dominante, a educação, em seu caráter de ação sistemática, e as reflexões sobre ela não ficaram imunes à luta de classes que envolvia a nobreza, os burgueses, o campesinato e outras camadas populares. A crise da educação cavaleiresca, os problemas da aprendizagem nas corporações, o surgimento da pedagogia humanística, as academias, as propostas da Reforma Protestante para as escolas, a reação católica da Contrarreforma para as escolas e o desenvolvimento da escola estatal colocaram questões sobre a organização escolar, o conteúdo curricular, a amplitude do sistema educacional, as formas de ensino, os objetivos da escola estatal, a formação de professores, o financiamento e relação entre escola e sociedade. Essas questões são respondidas de várias maneiras a partir de interesses de classes e frações de classes diferentes.


REFERÊNCIAS

 

GODECHOT, Jacques. Las revoluciones (1770-1799). Barcelona: Editorial Labor, 1969.